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    Clóvis Rossi

    A Fifa tem cúmplices

    28/05/2015 02h00

    Há uma lógica elementar na incipiente perspectiva de que as autoridades norte-americanas investiguem a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014.

    Afinal, se há uma investigação em curso –e prisões já feitas– sobre a concessão das Copas de 2018 e de 2022 à Rússia e ao Qatar, respectivamente, não consigo encontrar uma só razão para não desconfiar de alguma maracutaia na outorga ao Brasil.

    Mas não basta circunscrever as apurações à Fifa. É conveniente apurar se os governos dos países que sediarão as duas Copas já anunciadas e os que abrigaram as mais recentes (ou não tão recentes, de resto) conseguiram a organização por meios lícitos ou não.

    É razoável suspeitar que se envolveram no aroma de corrupção que desde esta quarta-feira, 27, é exalado pela entidade-mãe do futebol.

    O jornal "The New York Times", ao anunciar as prisões de dirigentes da Fifa em Genebra, fez acurada descrição do que é a entidade.

    Assim: "Com mais de US$ 1,5 bilhão (R$ 4,7 bilhões) em reservas, a Fifa é tanto um conglomerado financeiro global como uma organização esportiva. Com países ao redor do mundo competindo agressivamente para vencer a concorrência para hospedar a Copa do Mundo, Blatter [Joseph Blatter, seu presidente desde 1998] demanda a fidelidade de qualquer um que queira um pedaço do filão de receitas".

    De fato, todos os países que hospedaram Copas fizeram uma formidável campanha para convencer Blatter e a sua corte a lhes outorgar o direito.

    No caso do Brasil, a campanha foi comandada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como parte de sua estratégia para colocar o Brasil em lugar destacado no mapa do mundo.

    Conseguiu. Festejou a escolha do Brasil, em 2007, como se fosse a conquista do título.

    Definiu a organização de uma Copa como uma "tarefa imensa, incomensurável".

    Como se sabe, muita gente nas ruas não gostou da "tarefa" e protestou ruidosamente. Imagine o que aconteceria se, de repente, se descobrisse que a escolha do Brasil não se deveu apenas às suas belezas naturais e à sua paixão pelo esporte que a Fifa comanda.

    Seria um choque imensamente superior aos 7 a 1 que a Alemanha aplicou ao Brasil.

    Diga-se que a campanha pela Copa no Brasil não foi apenas do governo central. Ao contrário, foi uma tarefa de Estado, de que dá prova o comparecimento em Zurique, no dia do anúncio, de uma penca de autoridades, entre elas os então governadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ).

    Afinal, como lembra ainda o "The New York Times", na Fifa, "as decisões políticas são frequentemente tomadas sem debate ou explicação, e um pequeno grupo de funcionários graduados –conhecido como Comitê Executivo– opera com poder desmesurado. A Fifa tem, por anos, funcionado com pouca supervisão e menos ainda transparência".

    Como o governo brasileiro também funciona com pouca transparência (vide o escândalo envolvendo a Petrobras), é absolutamente natural que se desconfie quando ele se junta a uma entidade cujo vice-presidente, José Maria Marin, está preso agora.

    crossi@uol.com.br

    *crossi@uol.com.br

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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