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    Clóvis Rossi

    Tsipras tenta salvar o seu mandato

    10/07/2015 17h14

    A proposta que o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, apresentou aos credores parece uma rendição incondicional às exigências de seus algozes, mas, na prática, busca comprar tempo para que ele cumpra o seu mandato.

    Até agora, o que se negociava era um balão de oxigênio de € 7,2 bilhões (R$ 25,7 bilhões) para que a Grécia pudesse pagar dívidas que estão vencendo no curtíssimo prazo (algumas este mês).

    Agora, o que Tsipras está pedindo é um pacotão de € 53,3 bilhões (R$ 190,8 bilhões) para cobrir todos os vencimentos de dívidas até 2018.

    Insinua também uma reprogramação da dívida, que, na altura de 177%, é reconhecidamente impagável até segundo o Fundo Monetário Internacional.

    Reprogramação é uma palavra ambígua, que pode ser lida como perdão (parcial) ou alongamento dos prazos ou redução dos juros cobrados —tudo ainda a negociar.

    Além disso, o premiê solicita um pacote de investimentos (um micro-Plano Marshall, aquele que salvou a Europa depois da guerra) de € 35 bilhões (quase R$ 125 bilhões).

    Com isso, poderia, eventualmente, começar a recuperar a economia grega depois da queda de 25% registrada no conjunto dos cinco anos de medidas de austeridade.

    É óbvio que as novas doses de austeridade a que Tsipras se compromete agora com os europeus não servem para relançar a economia.

    Logo, ele precisa, para sobreviver politica e eleitoralmente, fazer o país sair do pântano em que caiu. É sintomático que o novo pacote de socorro vá até 2018, véspera de ano eleitoral, se o premiê conseguir cumprir os quatro anos de mandato que são habituais no parlamentarismo.

    As questões seguintes óbvias são duas: primeiro, Tsipras conseguirá apoio no Parlamento grego para as novas propostas que apresentou?

    É o que se estava discutindo na noite desta sexta-feira (10).

    Se conseguir, conseguirá igualmente a aprovação dos parceiros europeus (ou algozes, dependendo do ponto de vista)? A resposta só se saberá no domingo.

    O presidente francês, François Hollande, já saiu na frente, afirmando que o pacote apresentado pelo premiê grego é "sério e crível". Mas Hollande não representa a média ou a maioria das opiniões dos líderes europeus, porque tratou sempre de acomodar a situação ao contrário de seus pares, belicosos com Tsipras.

    De todo modo, também Jeroen Dijsselbloem, chefe do Eurogrupo (os ministros de Economia da zona euro), antes duro, agora soltou uma frase até certo ponto simpático: "É uma peça abrangente".

    Em tese, os credores deveriam aprovar a nova proposta grega porque os cortes de gastos e aumento de impostos prometidos são quase iguais aos que os próprios credores pediam antes de que Tsipras rompesse as negociações e convocasse o plebiscito.

    O problema é que, até então, negociavam-se € 7,2 bilhões em troca de tais ajustes. Agora, a Grécia pede € 53,5 bilhões pelos mesmos ajustes, com alguns retoques que os enfraquecem.

    É possível que os europeus resolvam aumentar o preço, até para punir Tsipras pelo atrevimento de convocar um plebiscito que desafiava seus parceiros.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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