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    Clóvis Rossi

    O perigo do Collor deles

    26/07/2015 03h30

    Fazia já algum tempo que eu vinha tentando me lembrar que tipo no Brasil corresponde, mais ou menos, a Donald Trump.

    Lembrei outro dia, ao vê-lo com um boné em que estava escrito "Faça a América grandiosa outra vez", slogan de sua campanha.

    É o equivalente das T-shirts com frases ridículas que Fernando Collor de Mello usava em seus dias de glória.

    Os dois são bufões que se meteram em uma "ego trip" que parece muito maior do que suas competências lhes autorizariam a tentar.

    Pena que só parece. A "viagem" de Fernando Collor levou-o ao Palácio do Planalto. Lembro-me como se fosse hoje de um almoço nesta Folha, durante a campanha de 1989, em que Leonel Brizola dizia que uma eventual vitória de Collor seria "a-histórica".

    Desgraçadamente, foi o que ocorreu. Da mesma forma, a "viagem" de Trump já o levou ao primeiro lugar entre os candidatos republicanos nas pesquisas mais recentes.

    Andrew Rosenthal, responsável pela página editorial de "The New York Times", demonstra ter agora uma sensação parecida com a de Brizola ao ver a liderança de Collor à época. Comentou o seguinte a respeito de observações de Trump (e também dos pré-candidatos Chris Christie e Ted Cruz, igualmente republicanos):

    "Não só as coisas loucas que dizem são mais loucas do que o que o republicano médio diz, mas eles realmente não têm nada a dizer que valha a pena ouvir".

    Mas a ascensão de Trump criou um dilema para colunistas, especialmente os liberais, como escreve Frank Bruni, também do "NYT": ou se comenta Trump, o que representa um prêmio para seu comportamento "ruim e transcedentalmente egoísta", ou "ignoramos algo que é real, de uma maneira que é irresponsável".

    No caso de Collor, esses escrúpulos foram engolidos por um pedaço da mídia que preferiu adotar Collor como antídoto ao que então se chamava de "monstro Brizula" (Brizola e Lula, que disputavam o segundo lugar na corrida presidencial).

    A grande diferença entre Collor e Trump é que a eleição do alagoano foi um tremendo azar apenas para o Brasil. Uma vitória de Trump seria uma tragédia universal.

    Pense, por exemplo, em uma eventual declaração do magnata sobre os brasileiros. A lógica mais elementar manda dizer que ele deve pensar dos latinos em geral, inclusive dos brasileiros, o mesmo que pensa dos mexicanos, ou seja, que somos todos narcotraficantes e estupradores.

    Como é um boquirroto incontrolável, nada impede que faça uma declaração desse teor se e quando for indagado sobre o Brasil.

    Aí, Edward Snowden vai ficar parecendo o maior estimulador do bom relacionamento Brasil/EUA.

    Tremo só de pensar no que ele faria, uma vez instalado na Casa Branca, com as relações com o Irã e Cuba, para citar apenas dois exemplos.

    Com sua "xenofobia reacionária que pode fazer o Tea Party soar liberal", como escreve Philip Stephens no "Financial Times", pode-se supor que invadiria Cuba para plantar uma de suas torres em Habana Vieja, Deus do céu.

    Torço para que os americanos sejam mais sensatos do que os brasileiros o foram.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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