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    Clóvis Rossi

    Entrada da Turquia muda o jogo nas guerras da Síria e do Iraque

    27/07/2015 17h17

    É corriqueiro que governantes façam proclamações grandiloquentes quando adotam decisões importantes, mas é difícil discordar de Ahmet Davutoglu, o premiê turco, quando ele diz que "o jogo mudou" nas guerras da Síria e do Iraque a partir da colaboração entre Estados Unidos e Turquia para enfrentar o EI (Estado Islâmico).

    O jogo mudou e ficou ainda mais confuso, porque o governo turco está combatendo, simultaneamente, o EI e as forças curdas que, por sua vez, também combatem o EI e contam com o apoio dos Estados Unidos, que se uniram à Turquia no combate a curdos e a radicais islâmicos.

    É difícil de entender o nó e também de saber se a mudança de jogo representa ou não o começo do fim do EI.

    De um lado, é possível dizer que sim porque a operação conjunta EUA/Turquia prevê cobertura aérea para que o Exército Sírio Livre, a força moderada que combate o ditador Bashar al-Assad, possa atuar com segurança contra o EI, mas também contra o ditador.

    Mas, de outro lado, é possível dizer que não porque, ao menos no Iraque, os "peshmergas", as tropas curdas, representam as principais forças de resistência/ataque aos radicais islâmicos.

    Como a Turquia os está combatendo com tanto vigor como o faz contra o EI, o natural é que os curdos se enfraqueçam, o que significa enfraquecer uma fatia essencial do enfrentamento com o EI.

    Por isso mesmo, torna-se razoável supor que a "mudança de jogo" anunciada por Davutoglu acabe levando a uma ou a ambas as opções militares por parte da Turquia: uma zona de exclusão aérea na Síria, o que minaria a capacidade de combate das tropas de Assad, ou, no limite, o que no jargão militar se chama de "boots on the ground" –tropas (turcas) no solo sírio–, hipótese negada pelo premiê, mas admitida pelo chanceler turco, Mevlut Çavusoglu.

    Çavusoglu (pronuncia-se "chavosoglu") diz que a Turquia está preparada para qualquer tipo de operações militares, inclusive uma ofensiva terrestre na Síria.

    Aí, sim, o jogo definitivamente mudaria.

    Internamente, na Turquia, o jogo já está mudando, para pior: as autoridades estão fazendo veladas ameaças ao Partido Democrático do Povo, de maioria curda, por ter silenciado em relação aos atentados praticados recentemente pelo ilegal PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos).

    O vice-presidente do Partido Justiça e Desenvolvimento, no governo há 12 anos, Mustafa Sentop, avisa que a única razão pela qual um partido pode ser fechado na Turquia é por estar ligado a uma organização terrorista.

    Como o PKK é considerado terrorista, fica a sutil advertência.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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