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    Clóvis Rossi

    Fidel Castro, o 'imorrível'

    14/08/2015 15h52

    A imagem de Fidel Castro amparado por Evo Morales para sair de uma van, no dia de seu 89º aniversário (quinta, 13), fornece duas sensações opostas.

    Primeiro, a de um vencedor.

    Afinal, foi por Fidel que se arriou a bandeira norte-americana diante da embaixada em Havana, e é uma vitória para ele que o regime que encarnou tenha sobrevivido aos 54 anos de confronto e de tentativas de desestabilização.

    Mas o vitorioso aparece, justamente na véspera da volta da bandeira ao mastro, tão caído, tão frágil, que dá pena.

    ABI/Efe
    Fidel Castro com Evo Morales (centro) e Nicolás Maduro, em Havana, dia 13 de agosto
    Fidel Castro com Evo Morales (centro) e Nicolás Maduro, em Havana, dia 13 de agosto

    Se eu fosse do ministério da propaganda de Cuba, esconderia Fidel para que a imagem dele permanecesse a do homem de espessa barba negra, vitorioso em Sierra Maestra, e não do ancião de barba rala e embranquecida que se viu na quinta-feira.

    A menos que a propaganda cubana queira dizer que Fidel é "inmorrible", como se dizia, 40 anos atrás, de Francisco Franco Bahamonde, o "caudilho de Espanha pela graça de Deus", quando ele agonizava no seu Palácio do Pardo.

    Foi tão longa a agonia que os espanhóis diziam: "Franco não é imortal, mas é imorrível".

    Foi exatamente essa a sensação que tive ao ver as fotos de Fidel com Evo Morales.

    Afinal, prognostiquei a sua agonia final já em 1997, ou seja, há quase um quarto de século.

    Tudo porque encontrei-o em Genebra, após as comemorações do cinquentenário do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio, rebatizado para Organização Mundial do Comércio).

    Estava pálido, a barba já mostrava enormes falhas, tinha um cor de doente –exatamente como apareceu nas fotos deste agosto de 2015.

    Ainda por cima, chegou a ser internado brevemente na cidade suíça naquela ocasião.

    Na volta ao Brasil, fiz um relatório para a Direção de Redação, relatando as minhas impressões do encontro com Fidel e sugerindo que se enviasse alguém a Cuba para começar a levantar o material para o pós-Fidel, que eu achava que poderia não tardar muito.

    Levou 11 anos para que a doença de fato o abatesse e o forçasse a transferir o poder para o irmão.

    É claro que não é a mesma coisa um homem de 71 anos com a aparência de doente, como era o Fidel de 1997, e outra coisa o mesmo homem, com aparência ainda mais decaída, aos 89 anos.

    Portanto, é possível que Fidel Castro de fato morra em breve. Mas eu continuo achando que ele é "imorrível"..

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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