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    Clóvis Rossi

    Um fracasso planetário

    23/08/2015 03h00

    Em novembro, o G20, que reúne as 20 maiores economias do planeta e é considerado o local por excelência para a coordenação de políticas econômicas, anunciou o lançamento do "Plano de Crescimento de Brisbane", a cidade australiana em que se realizou a mais recente cúpula do grupo.

    O objetivo era suculento: lançar uma coleção de programas com vistas a fazer o crescimento global ser, em 2018, 2,1 pontos percentuais superior ao que o Fundo Monetário Internacional previra, para aquele ano, na cúpula anterior (2013).

    Se tudo desse certo, a economia global ficaria espetaculares US$ 2 trilhões mais gorda dentro de três anos. Ou, para comparação, cresceria um Brasil e meio, mais ou menos, além do que se previa em 2013.

    Para atingir a meta, o G20 alinhavou cerca de 800 projetos de desenvolvimento. Tudo muito bonito. Pena que não está dando certo.

    A mais recente previsão do FMI, para 2018, indica que a economia global será, então, de US$ 87,6 trilhões (R$ 305 trilhões, ao câmbio atual). Em vez de 2,1 pontos percentuais maior do previsto em 2013, estará 10% abaixo.

    Não são apenas o FMI e um mundão de analistas planeta afora que contradizem a ambiciosa meta cravada pelo G20. Nas reuniões do próprio grupo, preparatórias para a nova cúpula (novembro, na Turquia), há o reconhecimento de que o cenário de crescimento está pior do que se pensava na reunião de Brisbane.

    Os emergentes estão visivelmente em dificuldades e até os Estados Unidos, que voltaram a puxar a economia global, tem tido uma reativação menos intensa do que se previa.

    Mas os negociadores do G20 não jogaram a toalha. Farão em setembro, dias 3 e 4, a primeira avaliação, a nível ministerial, das metas fixadas na cúpula anterior.

    Por enquanto, a discussão vai em duas direções: uma é condescendente, ao dizer que, como o ponto de chegada é 2018, não há razão para pânico por enquanto, já que os programas anunciados em novembro não poderiam mesmo fazer efeito em apenas nove meses.

    A outra direção é pressupor que, ante a relativa anemia econômica, o melhor é acrescentar mais programas aos 800 e tantos definidos em Brisbane.

    O Brasil é, obviamente, um dos países que não fará a sua parte para que o mundo fique 2,1 pontos percentuais mais gordo do que o previsto em 2013.

    Diz David Uren, colunista de economia do jornal "The Australian", que cobriu a cúpula de Brisbane: "Espera-se que o Brasil fique significativamente menor em 2018 do que se imaginava em 2013".

    Mesmo assim, o Brasil não está sendo cobrado nas reuniões preparatórias primeiro porque não é da praxe diplomática apontar o dedo para parceiros e, segundo, porque não há metas individuais por país.

    Além disso, a perspectiva para 2018 é a de que também Estados Unidos, China, Japão e Rússia estarão mais magros, em vez de mais gordos, na comparação com as previsões feitas em 2013.

    Ou, posto de outra forma, nenhuma das locomotivas usuais está funcionando da forma esperada. Um fracasso planetário, pois.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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