• Colunistas

    Tuesday, 21-May-2024 22:45:06 -03
    Clóvis Rossi

    Tragédia acaba em melancolia

    20/09/2015 02h00

    A tragédia socioeconômica que engoliu a Grécia nos últimos cinco anos vive neste domingo (20) o seu terceiro ato eleitoral do ano, na triste situação de não poder escolher o programa preferido.

    O programa já está dado: o novo pacote de austeridade imposto pelos credores em troca de uma ajuda de € 86 bilhões (R$ 372 bilhões).

    Ainda assim, Zsolt Darvas, pesquisador do Centro Bruegel de Pesquisas, vê uma decisão importante no pleito: "Os eleitores gregos terão que decidir se darão um novo mandato ou ao Syriza ou à Nova Democracia (ND) para governar sem outro grande partido ou forçar os dois a cooperar no governo".

    A tristeza dessa escolha é dada pelo fato de que a conservadora Nova Democracia liderou uma coalizão que implementou o pacote anterior de estabilidade, que levou a Grécia a um retrocesso econômico inédito (queda de 27% do PIB em cinco anos) e ao consequente desemprego recorde (chegou a 27% e, hoje, está em 25,2%).

    O esquerdista Syriza substituiu a ND graças a uma campanha de crítica feroz à austeridade apenas para render-se depois a ela, sob a ameaça da União Europeia de forçar a saída da Grécia do euro. Seria, segundo Alexis Tsipras, o líder do Syriza, uma tragédia ainda maior.

    Syriza e Nova Democracia lideram em todas as pesquisas, em situação de empate técnico, daí a hipótese levantada por Darvas: uma "grande coalizão" entre os dois principais partidos, aberta eventualmente às outras agremiações que também defendem a permanência no euro (os socialistas e os centristas do To Potami).

    Funcionaria?

    Responde Darvas: "Uma 'grande coalizão' tenderia a ser fonte de grandes tensões entre os parceiros, com um tratando de culpar o outro quando algo der errado".

    Mas, a mais longo prazo, "se a economia começar a crescer em algum momento do próximo ano e se se retomar a criação de emprego, a coalizão poderia ficar mais estável, respaldada por um sentimento público positivo".

    Pergunta seguinte obrigatória: é possível que a economia grega retome o crescimento em 2016?

    As respostas disponíveis são ambíguas. A tabela que a revista "The Economist" publica habitualmente nas suas páginas finais indica, nesta semana, que a Grécia cresceu 3,7%, em termos anualizados, no segundo trimestre do ano, e crescerá 2,2% em 2016.

    Mas a União Europeia prevê queda de 2,3% este ano e outro retrocesso (1,3%) em 2016.

    Mesmo que a "Economist" esteja certa, os números serão insuficientes para corrigir o dano econômico e, principalmente, social infligido aos gregos pelos anos de austeridade.

    A mais recente vítima é precisamente o Syriza, eleito em janeiro como novidade e abandeirado da antiausteridade e que depois se rendeu a ela.

    Consequência: um terço de sua bancada de 149 deputados rebelou-se, saiu e criou uma dissidência, a Unidade Popular.

    Tsi­pras "ficou sem programa, sem lema e sem bandeira", escreve para "El País" seu colunista Xavier Vidal-Folch.

    Natural, pois, que a tragédia grega termine um novo ato em profunda melancolia.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024