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    Clóvis Rossi

    Palhaçada

    05/10/2015 02h00

    Se eu fosse dono da Folha, substituiria todos os colunistas do caderno "Poder" pelo José Simão. Não que eles não sejam competentes. São, mas são sérios -e a crise brasileira só é séria na economia. Mas, aí, Vinicius Torres Freire trata do assunto com uma competência e clareza cada dia melhores.

    Na política, temos uma palhaçada como só se viu, recentemente, em alguns momentos do desastre Fernando Collor de Mello.

    O único colunista plenamente equipado com humor cáustico à altura do noticiário político é o Zé Simão.

    Na quinta-feira, 1º, por exemplo, parecia cena de pastelão a sessão da Câmara presidida por Eduardo Cunha, incapaz de ter a coragem e a decência de olhar para Chico Alencar (PSOL-RJ) enquanto este cobrava o elementar, uma explicação de Cunha sobre as contas que a Suíça diz que ele tem.

    Feita a cobrança, Cunha fingiu que não era com ele e continuou com a sessão, para desalento do deputado socialista, um dos raros Quixotes remanescentes em uma cena política degradada a níveis insuportáveis.

    Na minha santa ingenuidade, imaginei que haveria no plenário um coro de protestos diante do cínico silêncio de Cunha. Nada: a vida seguiu como se se estivesse discutindo dar o nome de uma praça a Eduardo Cunha.

    Uma praça na Suíça, talvez.

    Aí vem a pantomima do anúncio da reforma ministerial. A presidente faz toda uma mise-en-scène, como se de fato se tratasse de um elevado momento republicano.

    Todo o mundo sabe que se tratava apenas de confirmar a entrega do governo, sem que tivesse havido eleição ou impeachment no meio, de um lado a Luiz Inácio Lula da Silva e a seus homens de confiança e, de outro, ao mais rastaquera do peemedebismo.

    Agora, a pátria tem, em vez de aberrantes 39 ministérios, 31 aberrantes ministérios, o que, sem dúvida, vai resolver todos os problemas.

    Como se fosse pouco, o novo ministro da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, é acusado por um doleiro, o mais famoso personagem da Lava Jato, de ser "pau-mandado" de Eduardo Cunha, o aliado-agora-desafeto de Dilma e do governo.

    Calma, leitor, não terminou: o novo ministro da Saúde, Marcelo Castro (Marcelo quem?), sugere que volte a tão combatida CPMF em dose dupla, no débito e no crédito.

    Castro é do PMDB, o mesmo partido de um certo Michel Temer, que já disse, uma e mil vezes, que é contra a CPMF.

    É até possível que Dilma, com a ridícula reforma ministerial, tenha comprado tempo e impetrado habeas corpus preventivo contra o impeachment.

    Mas eu desconfio que o que de melhor aconteceu a ela, na semana que passou, foi a denúncia sobre Eduardo Cunha. Se a Câmara não perdeu completamente a vergonha, Cunha precisa ser afastado urgentemente da presidência da Casa.

    E, sem ele na presidência, o impeachment deixará de ser um instrumento de vingança pessoal brandido contra a presidente para se tornar uma hipótese só sustentável ante a evidência de algum crime de responsabilidade, o que, até agora, não existe.

    O resto é com você, caro Zé Simão.

    P.S.: Uma semana de férias.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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