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    Clóvis Rossi

    Unasul joga sua credibilidade em Caracas

    06/11/2015 17h34

    Com um atraso que a compromete, a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) finalmente decidiu enviar uma missão de observação às eleições parlamentares de dezembro na Venezuela.

    É tarde, mas é melhor do que nada.

    Digo tarde porque o Tribunal Superior Eleitoral brasileiro havia marcado 15 de outubro como a data mais conveniente para iniciar a observação.

    Seria pouco mais de um mês e meio antes da votação (dia 6 próximo), já que uma missão que vá ao país apenas nas imediações do pleito não tem como analisar a equidade no processo eleitoral, segundo a nota oficial que o TSE divulgou, ao desistir de participar.

    Agora, 6 de novembro, a missão ainda nem sequer tem um presidente designado, depois do veto branco da Venezuela a Nelson Jobim, escolhido pelo TSE e referendado pela presidente Dilma Rousseff.

    Eduardo Knapp - 18.out.2015/Folhapress
    O ex-ministro da Defesa Nelson Jobim
    O ex-ministro da Defesa Nelson Jobim

    A campanha já está em pleno andamento, e uma das manobras já foi feita, antes mesmo do 15 de outubro que o TSE definira como data mínima: o governo reformulou os distritos eleitorais, de forma a dar maior número de cadeiras a regiões em que o chavismo é mais forte.

    Como bem observou em carta à Folha o leitor Luiz Roberto da Costa Júnior, uma eleição com votação por distritos pode dar maior número de cadeiras a um grupo mesmo que tenha menor número de votos globais (no Reino Unido, por exemplo, o Partido Conservador ficou com a maioria absoluta das cadeiras mesmo tendo ficado longe da maioria absoluta dos votos, conforme texto neste espaço na ocasião).

    De todo modo, a vantagem da oposição nas pesquisas e o fortíssimo desgaste do governo, criticado até pela ultraesquerda chavista, indicam que, em condições de competição livre e justa, a oposição tende a fazer maioria.

    Caberá, pois, à missão da Unasul apontar se a disputa é justa e livre.

    Livre dificilmente se pode dizer que seja, já que estão presos políticos opositores importantes (e puxadores de voto) –e presos de forma arbitrária, como Leopoldo López, conforme acaba de apontar o promotor do caso, agora refugiado nos Estados Unidos.

    A questão central passa a ser, portanto, se a missão da Unasul, em que os países bolivarianos são minoria, mas mais estridentes do que a maioria, terá a coragem de apontar essas e outras eventuais irregularidades ou preferirá limitar-se a um "turismo eleitoral".

    Boris Vergara - 4.nov.2015/Xinhua
    Funcionário do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela testa tinta que será usada na eleição
    Funcionário do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela testa tinta que será usada na eleição

    Essa expressão é de Vicente Díaz, ex-reitor do Conselho Nacional Eleitoral venezuelano, em declarações ao sítio oposicionista TalCual.

    Refere-se ao fato de que chegar em cima da hora não permite, diz o especialista, comprovar "a luta do cidadão comum que se postula a um cargo frente ao nível de apoio com que contam os candidatos do oficialismo pelo uso dos recursos públicos e do Estado".

    Como o Brasil aprova a missão da Unasul, joga sua credibilidade junto com a instituição regional.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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