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    Clóvis Rossi

    Fracassa o 'Super PAC' global

    12/11/2015 02h00

    A cúpula do G20 deste ano, que começa domingo (15) no balneário turco de Antalya, será, acima de tudo, a da acomodação ao crescimento medíocre da economia mundial.

    As 20 maiores economias do planeta manterão de todo modo o compromisso, adotado na cúpula de 2014, de tomar medidas que levem o crescimento mundial, em 2018, a ser 2,1 pontos percentuais superior à previsão do FMI para a cúpula de 2013 –o que representaria acrescentar formidáveis US$ 2 trilhões à economia mundial.

    Daria um terço mais do que é toda a economia do Brasil, estancada em US$ 1,5 trilhão.

    Mas a menção à meta será feita sem fanfarra, ao contrário do que ocorreu em Brisbane (Austrália), sede da cúpula anterior.

    Roberto Stuckert Filho - 15.nov.2014/PR
    Ao lado de Obama, Dilma acena em foto oficial da cúpula do G20 em Brisbane (Austrália), em 2014
    Ao lado de Obama, Dilma acena em foto oficial da cúpula do G20 em Brisbane (Austrália), em 2014

    O comunicado da reunião de ministros da Fazenda que antecedeu a cúpula de Antalya e que, geralmente, é reproduzido pelos seus chefes diz: "Continuamos comprometidos com a implementação efetiva e em tempo de nossas estratégias de crescimento que incluem medidas para apoiar a demanda e elevar o crescimento potencial".

    O número mágico de 2,1 ponto percentual nem é expressamente mencionado. Nem seria conveniente: a previsão de 2013 do FMI era de crescimento de 2,9%. O mundo teria de crescer 5%, em 2018, para cumprir as metas fixadas em Brisbane.

    A mais recente previsão para a economia mundial, da agência de avaliação de risco Moody's, diz que o crescimento médio do PIB do G20 para o período 2015/17 será de 2,8%, só 0,3 ponto percentual acima do período 2012/14 e abaixo da média de 3,8% registrada nos cinco anos anteriores à crise mundial.

    Avalia Tristram Sainsbury, pesquisador do Centro de Estudos do G20 do Lowy Institute (Austrália): "O tempo está correndo, e o FMI, além de rebaixar a perspectiva de crescimento, ainda não atribui crescimento algum como resultado das ações propostas em Brisbane".

    O compromisso das grandes economias amparava-se numa espécie de "super PAC global", um programa mundial de aceleração do crescimento composto de mil iniciativas.

    Nas discussões entre os negociadores do G20, prévias à cúpula, ficou claro que medidas adicionais terão de ser anunciadas –e, acima de tudo, implementadas. O Brasil, por exemplo, porá na mesa o PIL (Programa de Investimento em Logística), anunciado faz tempo.

    Mas não basta. A Folha ouviu de uma das negociadoras (o Brasil só tem negociadores) que "o esforço tem de triplicar porque, por enquanto, não estão dadas as condições para atingir a meta".

    Como em todas as cúpulas anteriores desde a eclosão da crise de 2008, os EUA assumem papel de, digamos, "desenvolvimentistas" em contraponto aos que ainda se aferram à austeridade.

    É o contrário do que acontece com o Brasil: até Brisbane, com Guido Mantega ainda à frente da Fazenda, o país alinhava-se aos EUA na crítica à excessiva ênfase na austeridade, com apoio de Dilma Rousseff.

    Joaquim Levy, no seu primeiro G20, ainda está preso à austeridade (com apoio de Dilma?). Mesmo assim, não está sendo cobrado porque não é da praxe do G20 individualizar situações.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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