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    Clóvis Rossi

    A hora do pânico

    14/11/2015 18h30

    Os atentados de Paris subverteram por completo a pauta do G20, o grupo das 20 maiores economias do mundo cujo foco é prioritariamente a economia.

    O anfitrião, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, já havia colocado o terrorismo como tema central para o jantar que abre a cúpula hoje, 15.

    "Essa sessão vai ganhar um peso extra", diz, por exemplo, Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático da presidente Dilma Rousseff (que tomou conhecimento dos atentados durante o voo).

    Marco Aurélio de certa forma expressa a perplexidade dos dirigentes globais diante dos locais atingidos e da violência desatada:

    "Demonstra claramente que um grupo relativamente pequeno de pessoas tem capacidade de provocar tremendo estrago".

    Mais: "Trata-se da pior versão de terrorismo, pois não se volta contra símbolos do Estado, mas contra a sociedade". O que é explicável, na lógica enlouquecida dos terroristas: não se trata de derrotar o inimigo mas de provocar pânico.

    O objetivo já foi alcançado, constata Ángel Gurria, secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico:

    "Ninguém pode se sentir confortável e fora de alcance, sejam indivíduos, empresas, países e regiões".

    No discurso que Dilma fará na sessão sobre terrorismo dirá que não há justificativa ética, moral ou religiosa para o terrorismo.

    Feita essa observação essencial, Marco Aurélio pede, no entanto, "uma reflexão sobre as origens mais profundas do fenômeno".

    O assessor presidencial admite que o esforço militar terá que ser acentuado, em função do que houve em Paris. Já Gabriela Ramos, negociadora da OCDE na cúpula do G20, pede uma coordenação global mais intensa: "O terrorismo é transnacional e exige resposta coordenada internacionalmente".

    Ecoa Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu (máxima instância comunitária): "Vamos garantir que a estratégia europeia contra o terrorismo estará à altura de responder aos desafios dos próximos meses".

    Fácil de dizer, difícil de executar. Marco Aurélio, por exemplo, por mais que admita a lógica do aumento do esforço militar, diz que ele não tem funcionado.

    "Ao contrário, tem ajudado a desestabilizar regiões como o Norte da África [alusão em especial à Líbia] e o Oriente Médio", completa.

    Por mais que essa avaliação faça sentido, é difícil para o resto do mundo entender as razões profundas do terrorismo, se é que há mesmo razões mais profundas ou se trata apenas de fanatismo.

    Como disse o primeiro-ministro turco Ahmet Davutoglu, "esses ataques não são apenas contra o povo francês, mas contra toda a humanidade, a democracia, a liberdade e valores universais".

    Ou, posto de outra forma, o que está em jogo é um conflito de valores, em que um lado não respeita nem a vida do outro quanto mais "valores universais".

    Por isso, é improvável que Tusk tenha razão ao dizer que a estratégia europeia está à altura dos desafios. Pode até estar, mas os fatos de Paris instalaram um pânico global, como expôs Gurria.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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