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    Clóvis Rossi

    Corrupção custa meio Brasil, segundo cálculo de Kerry

    22/01/2016 11h28

    Jean-Christophe Bott/Efe
    Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, discursa no Forúm de Davos (Suíça)
    Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, discursa no Fórum de Davos (Suíça)

    O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, aproveitou seu discurso desta sexta-feira (22), no Fórum de Davos, para um sermão contra a corrupção, que, pelas suas contas, causa perdas de US$ 1 trilhão (R$ 4,14 trilhões) —pouco menos da metade, portanto, que o tamanho da economia brasileira (em 2014, PIB do país foi de US$ 2,346 trilhões).

    Para uma plateia de empresários —necessariamente o outro lado de esquemas de corrupção envolvendo o poder público—, Kerry chegou a colocar a corrupção como "uma prioridade de segurança nacional".

    O secretário lembrou que "a corrupção não é um problema novo", mas acrescentou: "Está crescendo a um ritmo alarmante e ameaça o crescimento e a estabilidade globais".

    Como é óbvio, em nenhum momento citou a Petrobras ou qualquer outro esquema de corrupção no mundo.

    Para Kerry, a corrupção funciona como "ferramenta de recrutamento" para grupos terroristas.

    O sermão anticorrupção contrastou com o tom extremamente otimista com que Kerry tentou desmontar, em uma fala de uma hora, o que chamou de sensação de que se vive em "um Titanic global".

    É uma alusão à coleção de cenas dramáticas exibidas no ano passado, desde a criança síria encontrada afogada numa praia da Turquia até as ruínas de aglomerações urbanas devastadas por guerras.

    "O mundo não está congelado em um pesadelo", afirmou.

    OTIMISMO

    Para demonstrar sua tese, citou, previsivelmente, logo de saída, o acordo nuclear com o Irã, o grande sucesso da administração de Barack Obama.

    Como decorrência do acordo, "o mundo está mais seguro", acha Kerry.

    Menos convincente foi a menção à Líbia ou, mais precisamente, ao acordo entre as duas facções que montaram cada uma o seu próprio governo.

    O acordo de fato houve, mas, como lembrou também em Davos Mahmoud Jibril, ex-primeiro-ministro líbio, o poder no país não está com qualquer dos governos mas com as milícias, que nem estiveram à mesa de negociação.

    O processo de paz na Colômbia e o reatamento de relações entre EUA e Cuba foram os fatos latino-americanos relembrados para reforçar sua tese contra o congelamento em um pesadelo.

    Kerry deu uma receita de três pontos para que o mundo de fato se livre de ficar congelado em um pesadelo: bom governo; oferecer aos jovens as oportunidades econômicas e sociais "que eles merecem"; e vencer a campanha contra os que "sequestraram" uma religião [alusão óbvia aos fanáticos que se escudam numa interpretação fanática do islã].

    Para ele, "o conflito [com os terroristas] não é entre uma civilização e outra; é entre civilização e barbárie".

    O secretário de Estado afirmou que a luta contra o terrorismo será "o desafio que definirá a nossa geração".

    Mesmo reconhecendo que o sucesso nessa batalha "levará anos", Kerry manteve o tom otimista do conjunto de sua fala: "O Daesh [acrônimo em árabe para Estado Islâmico] será derrotado".

    Citou como pontos em que baseia seu otimismo o fato, por exemplo, de que o EI perdeu nos últimos meses de 30% a 40% do território que ocupava. "Estamos indo na direção correta", disse.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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