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    Clóvis Rossi

    Um fracasso planetário

    14/04/2016 02h00

    O Brasil é o grande fracassado do planeta, mas não é o único. O mundo inteiro deixou de cumprir os compromissos que sua parte economicamente mais relevante (o G20) assumiu já faz dois anos: crescer 2,1 pontos percentuais até 2018 acima do que o Fundo Monetário Internacional previa em 2013.

    Como a previsão era de crescimento de 2,9%, tem-se, portanto, que, em 2018, o mundo deveria estar crescendo fabulosos 5%.

    Agora, vem o FMI e mostra que essa meta não será alcançada, a menos que haja um milagre que não está nem remotamente à vista.

    Pior: cada vez que lança seu Panorama Econômico Mundial, o Fundo se vê obrigado a reduzir suas projeções de crescimento. Na terça-feira (12), cravou 3,2% para este ano, o menor nível desde 2009 (quando o mundo saía da Grande Recessão) e 0,2 ponto percentual abaixo da previsão anterior.

    Cortou também um décimo do crescimento previsto para o ano que vem, reduzindo-o a 3,5%.

    Ou seja, em vez dos 2,1 pontos percentuais acima dos 2,9% de 2013, o mundo está crescendo apenas alguns décimos mais, o que é insuficiente para recuperar a confiança.

    Ou, como diz Mau­ri­ce Obst­feld, economista-chefe do FMI, "se a eco­no­mia cresce menos de forma per­sis­ten­te, causa uma redução nos investimentos e faz com que o crescimento já não baste para lograr o pleno emprego ou melhorar os salários, o que pode le­var a tensões po­lí­ti­cas".

    É uma avaliação que casa à perfeição com o que está ocorrendo no Brasil, com a agravante de que, aqui, não se trata de crescer menos, mas de retroceder de uma forma inédita pelo menos desde a grande crise de 1929/30, ou seja, há praticamente um século.

    O processo de impeachment de Dilma Rousseff não teria avançado tanto se não fosse a recessão aguda e seus efeitos inexoráveis: aumento dos desemprego, queda dos salários, contração dos investimentos –enfim, o receituário que Obstfeld aponta como gerador de tensões políticas.

    É bom lembrar que Dilma Rousseff assinou o documento final da cúpula em que o G20 se comprometia a crescer 2,1 ponto percentual acima do previsto em 2013.

    Mais: listou um punhado de investimentos que permitiriam ao Brasil ajudar a cumprir a meta global (não havia meta individual para cada país do G20).

    Para a cúpula do G20 em Antalya (Turquia), Dilma já se apresentou como a chefe do governo de pior desempenho econômico, se se excetuasse a Rússia: o FMI previa, então, retração de 3% (foi pior: 3,8%).

    Agora, então, o desastre está redondo: nem a Rússia, com sua recessão de 1,8%, está tão ferida como o Brasil, que cairá de novo 3,8%.

    É evidente que, se o país estivesse crescendo, as chamadas pedaladas fiscais passariam sem ser notadas.

    O fracasso econômico, no entanto, gerou a tensão política que chega agora a seu ponto de ebulição.

    Nem serve de consolo o fato de que o mundo todo descumpre seus compromissos, em clara evidência de que os governos já não dispõem de instrumentos para içar suas economias.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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