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    Clóvis Rossi

    Dilma cai, Maduro perde

    15/05/2016 02h00

    Em meros seis meses, a Venezuela bolivariana perdeu dois dos seus já poucos aliados na América do Sul, exatamente os dois países mais importantes no subcontinente (Argentina, primeiro, e Brasil, agora ).

    No caso da Argentina, deu perda total: Cristina Kirchner era uma defensora incondicional do chavismo, até porque seu governo, como o de seu marido, recebia precioso financiamento de Hugo Chávez.

    Fernando Bizerra Jr. - 16.jul.2015/Efe
    A presidente Dilma Rousseff recebe Nicolás Maduro no Palácio do Itamaraty em julho de 2015
    A presidente Dilma Rousseff recebe Nicolás Maduro no Palácio do Itamaraty em julho de 2015

    Mauricio Macri, o novo presidente, antes mesmo de assumir, já propunha impor à Venezuela a cláusula democrática do Mercosul, no pressuposto que se tratava de uma ditadura, incompatível, portanto, com as regras do grupo.

    No caso do Brasil, a perda talvez seja ainda mais terrível, pela simples e boa razão de que o país pesa mais no cenário global e, portanto, ainda mais no panorama regional.

    É verdade que o governo Dilma já vinha se afastando dos amigos bolivarianos. Mas, ainda assim, o fazia com aquela paquidérmica lentidão que é uma característica permanente da diplomacia brasileira.

    A nota de sexta-feira (13) criticando os bolivarianos em geral já é um primeiro sinal. Mas foi apenas reação a um ataque. Falta agora a ação, a iniciativa.

    Há uma segunda ressalva a fazer na expectativa de que José Serra à frente do Itamaraty representará perda total para a Venezuela: o novo ministro, por sua formação centrada na economia, tenderá a dar prioridade à negociação de acordos comerciais, território de que o Brasil ficou afastado nos últimos muitos anos.

    A propósito, Brasil e União Europeia acabam de trocar as ofertas indispensáveis para eventualmente fechar um acordo de livre comércio, que é negociado desde 1995.

    Logo, é razoável supor que Serra poderá, nessa seara, aterrissar já acelerando.

    Mas seria um erro deixar de lado o dossiê venezuelano. Afinal, Serra já disse, como senador, que a Venezuela é uma "ditadura". Não é exatamente assim, mas não fica muito longe disso.

    Logo, seria coerente que o novo ministro desse todo o apoio ao esforço da oposição para convocar o chamado "referendo revogatório" do mandato do presidente Nicolás Maduro.

    Como Maduro é um fracasso administrativo muito mais portentoso do que Dilma Rousseff, caberia ao vizinho Brasil, além disso sócio no Mercosul, apoiar uma saída que permita salvar a Venezuela de uma crise aparentemente terminal.

    Sugiro a Serra, como leitura inicial a respeito, o texto para "The Atlantic" dos analistas venezuelanos Francisco Toro e Moisés Naïm, que já foi colunista da Folha.

    Dizem, para começar: "O que o país está enfrentando é monstruosamente único. É nada menos do que o colapso de uma nação grande, rica, aparentemente moderna, aparentemente democrática, a poucas horas de voo dos Estados Unidos" [e do Brasil, acrescento].

    Não é exagero. A mazela venezuelana (recessão impressionante, inflação recorde mundial, criminalidade idem, escassez de quase tudo) é arquiconhecida.

    O hiperativo Serra vai assistir inerme ao colapso?

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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