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    Clóvis Rossi

    Venezuela trava o Mercosul

    03/07/2016 02h00

    Pedro Ladeira - 17.jul.2015/Folhapress
    O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, participa de reunião do Mercosul em Brasília, em 2015
    O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, participa de reunião do Mercosul em Brasília, em 2015

    É pura coincidência, mas não deixa de ter certo simbolismo: Mauricio Macri, o presidente argentino, participou na quinta (30) da cúpula da Aliança do Pacífico, da qual a Argentina é observadora, mas não poderá participar da cúpula do Mercosul, do qual seu país é o segundo maior sócio, atrás apenas do Brasil.

    A razão é simples: a habitual cúpula semestral do Mercosul, marcada para dia 12, não se realizará. Será substituída por uma reunião de chanceleres.

    Qual o simbolismo? Enquanto a Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e Peru), mais recente, vai se consolidando como atraente grupo regional, o Mercosul vive certamente seu pior momento.

    Tão ruim que a cúpula deste mês teve que ser cancelada em consequência das "condições políticas particulares que vivem alguns sócios", segundo Rodolfo Nin Novoa, o chanceler do Uruguai, país que é o presidente de turno do Mercosul.

    Por "alguns sócios", leia-se Venezuela e Brasil. O Brasil porque é de fato complicado participar de uma reunião no mais alto nível quando há uma presidente afastada e um substituto apenas interino.

    De todo modo, o problema brasileiro é passageiro. Em agosto, ou Dilma Rousseff volta a ser a presidente efetiva ou Michel Temer é confirmado no cargo. Desaparecerá, então, a "condição política particular" que justifica trocar a cúpula por um encontro de chanceleres.

    Já no caso da Venezuela, o problema é permanente, ao menos até se resolver a imensa crise interna.

    A Venezuela, aliás, deve assumir a presidência de turno do Mercosul neste segundo semestre. Mas "ninguém quer ser fotografado com o ditador da Venezuela", como escreve Marinella Salazar, colunista de "El Nacional", jornal de oposição.

    De fato, pelo menos três dos cinco membros plenos do bloco (Argentina, Brasil e Paraguai) concordam com Marinellla Salazar quando ela chama o presidente Nicolás Maduro de ditador.

    O chanceler José Serra já disse publicamente que país que tem presos políticos não é democrático —e a Venezuela de Maduro tem 96 deles. Macri chegou a ameaçar, após ser eleito, pedir a aplicação à Venezuela da cláusula democrática do Mercosul. Depois, contemporizou, mas continua firme crítico do regime venezuelano.

    O Paraguai é, agora, o mais empenhado em aplicar a cláusula democrática no caso venezuelano. O Brasil está esperando que Maduro ultrapasse algum sinal vermelho, como o seria levar à prática a ameaça de dissolver a Assembleia Nacional feita por grupos chavistas.

    As chances de que a Venezuela seja de fato punida no Mercosul tendem a zero: as regras do bloco exigem consenso para tomar tal decisão, consenso de que devem participar não só os membros plenos como os Estados associados.

    Como, entre estes, estão os "bolivarianos" Equador e Bolívia, o consenso é inalcançável.

    Enquanto as particulares condições política da Venezuela continuarem como estão, o Mercosul fica paralisado —e no exato momento em que o Brasil gostaria de discutir a sua "flexibilização", seja lá o que isso venha a ser.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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