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    Clóvis Rossi

    O inacreditável Donald Trump

    28/07/2016 02h00

    O inacreditável apelo de Donald Trump para que a Rússia pirateie os e-mails que Hillary Clinton enviou/recebeu de um servidor particular em seus tempos como secretária de Estado apenas confirma editorial do "Washington Post", cujo título diz tudo: "Donald Trump é uma ameaça única para a democracia americana". Mais: "Ele não é adequado para a Presidência e não pode ser endossado".

    O outro grande jornal dos EUA, o "New York Times", observa com razão que Trump "na essência sanciona a ciberespionagem de um poder externo sobre correspondência de uma secretária de Estado".

    Não caracteriza traição à pátria? Ou Trump é um bufão inimputável que, diga a tolice que disser, não pode ser chamado a prestar contas?

    O pior não é nem essa leniência absurda com quem pode receber, em janeiro, os códigos nucleares (o único que não precisa se preocupar com isso é Vladimir Putin, o autocrata que governa a Rússia e é admirado pelo magnata que pode governar os EUA).

    Pior mesmo é o detalhe da recente pesquisa da CNN, comentado por Greg Sargent no "Washington Post". Para 45% dos norte-americanos, o retrato que Trump pinta da situação dos EUA corresponde aos sentimentos deles. Apenas poucos mais (48%) dizem o contrário.

    Comenta Sargent: "Quer dizer que quase metade dos pesquisados compartilham a visão de Trump de uma América em que o crime está disparando, hordas escuras estão vazando pelas fronteiras, terroristas estão emboscados em cada esquina, cresce uma crise de refugiados que ameaça o Ocidente e, mais importante, estamos paralisados ao lidar com as ameaças internas e externas pela 'correção política', isto é, demasiada sensibilidade racial".

    Completa o comentarista: "Não importa que essa visão da América é baseada em uma série de escandalosas mentiras e distorções. Trump capturou, corretamente, como quase metade dos americanos sente o país." O diagnóstico sombrio "não resiste ao contato com a realidade", analisou, faz pouco, o diário espanhol "El País":

    "O desemprego, que chegou a 10% em 2009, o primeiro ano em que Obama esteve no poder, encontra-se agora em 5%. Nos anos de Obama, o setor privado criou cerca de 10 milhões de empregos. Mais de 20 milhões de pessoas sem cobertura de saúde obtiveram um seguro médico graças à reforma que Obama promoveu."

    O índice que combina desemprego e inflação, conhecido como índice de miséria ou aflição, não estava em nível tão baixo desde os anos 50 -anos dourados para os EUA.

    Em contrapartida, analisa Christian Caryl, editor do Laboratório da Democracia, publicado pela "Foreign Policy": "A Grande Recessão [iniciada em 2008] e as rupturas causadas pela mudança tecnológica transformaram as economias, fomentando raiva extrema entre aqueles que ficaram para trás. Terrorismo e imigração mexem com medos profundamente arraigados, tocando em seções do cérebro que não respondem a apelos sedativos por razoabilidade e unidade".

    Nesse ambiente vicejam Trumps e outras ameaças. É assustador.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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