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    Clóvis Rossi

    Venezuela afunda na violência e em ruína que só tem paralelo na Síria

    07/08/2016 02h00

    Há algum país no mundo em que as pessoas sentem-se mais inseguras do que na Síria, em multifacetada guerra civil há cinco anos? Existe, sim. Fica na esquina norte do Brasil e chama-se Venezuela, como você já adivinhou.

    Segundo o site InSight Crime, a porcentagem de sírios que se sentem seguros é de 32%; ao passo que na Venezuela a sensação de segurança é percebida por apenas 14%, pior índice dos países pesquisados.

    Não é que os venezuelanos sejam paranoicos. Eles se sentem inseguros porque a violência escapou completamente do controle das autoridades. Já faz tempo que é assim, mas, em julho, atingiu-se um nefando recorde: ao correspondente caraquenho do Instituto Médico Legal chegaram, no mês passado, 535 cadáveres vítimas de crimes.

    Dá, portanto, 17 cadáveres por dia, o que só confirma a capital venezuelana como a mais violenta do mundo. Para comparação: são 119 homicídios par­a cada 100 mil habitantes, quando em São Paulo, que não é exatamente uma Suíça em matéria de segurança, o índice é um décimo, aproximadamente, do registro de Caracas.

    Aliás, no citado levantamento da InSight Crime, no que a publicação chama de Índice da Lei e da Ordem, o Brasil fica com 57 pontos em uma classificação que vai de 0 (péssimo) a 100 (ótimo). A Venezuela também é a última colocada, com 35.

    Não é à toa, portanto, que os venezuelanos fujam em massa do país: segundo estudo do Centro de Pesquisas Pew, referência na área, 10.221 venezuelanos pediram asilo nos Estados Unidos apenas entre outubro de 2015 e junho passado. É três vezes mais do que os 3.810 que fizeram idêntico pedido no mesmo período um ano antes.

    É tal o desespero que os venezuelanos buscam não apenas o suposto paraíso americano, mas até países mais pobres, em teoria, do que a própria Venezuela.

    O Equador, por exemplo, registrou em junho e julho 2.000 entradas de venezuelanos em fuga do inferno em seu país. Em geral, trata-se de descendentes de equatorianos que, nos anos de bonança na Venezuela, fugiram da pobreza no Equador. Agora que a bonança deu lugar a uma crise que só países em guerra chegam a conhecer, fazem o percurso inverso.

    É um sinal claro (apenas mais um, aliás) que indica o redondo fracasso do chamado "socialismo do século 21". Há outros sinais, talvez ainda mais dramáticos: a agência de notícias Reuters relata que crescente número de mulheres jovens recorre, a contragosto, à esterilização, para evitar as agruras da gravidez e da criação de filhos em um país em crise tão infernal.

    Explica a agência: "Contraceptivos tradicionais, como preservativos e pílulas anticoncepcionais, praticamente desapareceram das prateleiras, empurrando as mulheres rumo à cirurgia de difícil reversão".

    Dá para censurar os governos de Argentina, Brasil e Paraguai, que se recusam a passar a Presidência do Mercosul a essa ruína irremediável?

    Espantoso é que a esquerda brasileira silencie ou, pior, defenda um modelo que é o mais redondo fracasso. Torna-se inexoravelmente sócia do fracasso.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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