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    Clóvis Rossi

    O nadador e a vergonha que perdemos

    22/08/2016 13h24

    O episódio do nadador norte-americano Ryan Lochte e o assalto que não sofreu serve para demonstrar quão profundo é o espírito de vira-lata que assola o brasileiro e quanto deixamos de nos incomodar com as lacras da pátria amada.

    Jason Getz-9.ago.16/USA Today Sports/Reuters
    Aug 9, 2016; Rio de Janeiro, Brazil; Conor Dwyer (USA), Townley Haas (USA), Ryan Lochte (USA) and Michael Phelps (USA) with their gold medals after the men's 4x200m freestyle relay final in the Rio 2016 Summer Olympic Games at Olympic Aquatics Stadium. Mandatory Credit: Jason Getz-USA TODAY Sports ORG XMIT: SRR254
    O nadador americano Ryan Lochte celebra a medalha de ouro pela prova de revezamento no 4 x 200m

    Por partes: as autoridades policiais do Rio de Janeiro chegaram a dizer que Lochte quis fazer o Brasil passar vergonha por ser supostamente incapaz de proteger um estrangeiro de passagem pelo Rio.

    Pode até ser verdade, embora tenha a impressão de que ele estava bêbado demais para ser capaz de criar uma história com algum outro objetivo que não fosse o de livrar a cara.

    Mas o importante não é nem isso. O que faltou dizer, em toda a novela, é que o fato que o nadador inventou ocorre, de verdade, quase todos os dias, no Rio ou em qualquer outra cidade brasileira de grande ou médio porte.

    Não há assaltos todos os dias, com armas apontadas para as vítimas? Não há gente fardada, como dizia a versão original do nadador, que se envolve em tais crimes?

    Posto de outra forma: o Brasil se envergonha quando um deles supostamente acontece com um gringo, ainda por cima loiro, mas perdeu a capacidade de se envergonhar e se indignar quando ocorre, como sempre ocorre, com sua própria gente.

    As autoridades brasileiras assumiram, implicitamente, que são incapazes de garantir a segurança, tanto que, sempre que vêm estrangeiros em massa, recorrem às Forças Armadas para evitar que eles sejam importunados.

    Quando a massa de gringos se vai, os militares voltam para os quartéis e os brasileiros ficam expostos à violência cotidiana, sem que apareça alguém para dizer que é uma vergonha.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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