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    Clóvis Rossi

    Unesco erra ao evitar termo 'Monte do Templo' em Israel; Brasil se corrige

    18/10/2016 16h31

    Sebastian Scheiner/Folhapress
    ORG XMIT: JRL106 A wooden bridge, at right, leading to the Al Aqsa Mosque compound, known by the Jews as the Temple Mount, is seen in Jerusalem's Old city Thursday, Dec. 8, 2011. Jerusalem municipal officials announced they would shut down a walkway to a contested shrine at the heart of the Israeli-Palestinian conflict, a move liable to touch off a new round of violence between Muslims and Jews in the volatile holy city. (AP Photo/Sebastian Scheiner)
    Vista geral do Monte do Templo, em Jerusalém, local sagrado para os judeus

    A Unesco, o braço das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, cometeu o crime, reiterado nesta terça-feira (18), de reescrever a história e apagar os traços do judaísmo exatamente em seu mais sagrado ponto, o Monte do Templo/Muro das Lamentações.

    Menos mal que a diplomacia brasileira, que respaldara o atentado na primeira votação —na terça-feira (13)—, corrigiu o tiro em seguida e passou a criticar a proposição, obviamente apresentada por países árabes/muçulmanos.

    O Itamaraty alega que tentou, durante a discussão do tema, "suavizar os termos da proposta", mas, não o conseguindo, acabou votando a favor dela. É uma argumentação meio trôpega, mas, enfim, é melhor mudar de posição do que persistir no erro.

    A resolução sobre a "Palestina Ocupada" (o que é um fato) critica as ações de Israel na Cidade Velha de Jerusalém, referindo-se ao Monte do Templo exclusivamente com a designação de "mesquita Al-Aqsa/Al-Haram Al-Sharif e suas imediações".

    É como os árabes se referem ao que, em português, é "Nobre Santuário".

    Ignora, como se queixa corretamente a mídia israelense, a existência lá mesmo de locais judaicos sagrados.

    Por extensão, ignora a presença cristã na área, como lembra a blogueira Leah Soibel no "Times of Israel" desta terça (18): ela cita o pastor Mario Bramnick, presidente da Coligação de Lideranças Hispânicas de Israel, para quem "Jerusalém e o Monte do Templo estiveram originalmente sob controle judeu com influência cristã mais tarde. Jesus ensinou, rezou e praticou milagres em Jerusalém e no Monte do Templo durante os tempos do Segundo Templo [destruído pelos romanos no ano 70]".

    É exatamente essa a argumentação do Itamaraty para mudar de posição: "O fato de que a decisão não faz referência expressa aos históricos laços do povo judeu a Jerusalém, particularmente ao Muro das Lamentações, o local mais sagrado do judaísmo, é um erro, o que torna o texto parcial e desequilibrado."

    De fato, uma coisa é lamentar, como o faz a resolução aprovada na Unesco, "as contínuas operações na área da mesquita e no Al-Haram Al-Sharif por extremistas de direita israelenses e por forças uniformizadas", o que é real e merece críticas.

    Da mesma forma, é legítimo criticar a ocupação por Israel de territórios que a legalidade internacional conferiu aos palestinos, atitude que até alguns judeus adotam.

    Outra coisa, completamente diferente, é reescrever a história e tentar negar a "histórica conexão do judaísmo com o Monte do Templo, onde os dois templos existiram por mil anos e nos quais todos os judeus rezaram", como diz o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu.

    Aliás, a posição brasileira nessa matéria foi, tradicionalmente, a de defender a existência de dois Estados —um para os judeus, outro para os palestinos, nos termos definidos pelas Nações Unidas.

    Não serão resoluções desequilibradas como essa da Unesco que mudarão a realidade da ocupação e suas tristes consequências.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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