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    Clóvis Rossi

    Vencedor de prévias na França lança 'choque liberal' na economia

    20/11/2016 20h48

    O ex-premiê François Fillon, vencedor com folga do primeiro turno das primárias da direita francesa, ganhou com uma agenda muito pouco francesa: um "choque" nitidamente liberal, em um país que tem atávica inclinação pelo estatismo.

    A ênfase na economia torna menos relevante a maneira como Fillon, se confirmar a vitória no segundo turno e depois na eleição (maio de 2017), enfrentará a questão da imigração, que é ponto forte na agenda de sua presumível adversária, a ultradireitista Marine Le Pen.

    É verdade que o ex-primeiro-ministro propõe reduzir a menos da metade a cota de imigrantes que chegam anualmente ao país. Mas parece pouco ante o radicalismo de Le Pen, cuja linha se assemelha à de Donald Trump nos Estados Unidos (simbolizada pela proposta do muro na fronteira com o México).

    Claro que na França não se pode construir um muro onde quer que seja, porque ela pertence à União Europeia. Mas a proposta mais escandalosa de Marine Le Pen é sair da União Europeia, o que lhe daria liberdade para políticas radicais contra a imigração.

    Mas é na economia que Fillon adota um liberalismo radical, a ponto de propor a eliminação das 35 horas de trabalho, bandeira cara à esquerda e sempre criticada pela direita, mas que foi mantida no governo de Nicolas Sarkozy, o rival derrotado por Fillon na primária dos republicanos.

    O choque proposto pelo primeiro colocado visa promover uma economia de imponentes € 100 bilhões [cerca de R$ 358 bilhões] nas despesas públicas, além de cortar 500 mil empregos na função pública também em cinco anos.

    Na área comportamental, o liberalismo é substituído pelo conservadorismo: Fillon pretende restabelecer uma lei, derrubada pelo governo do socialista François Hollande, que impede a adoção plena por parte de casais homossexuais.

    É cedo para antever se, com esse choque, Fillon será um candidato competitivo contra a ultradireita. Mas, se se trata de buscar uma novidade, tal como ocorreu nos Estados Unidos com Donald Trump, é essa agenda. Na França nem a direita seguiu uma linha tão próxima do thatcherismo como agora propõe o provável candidato dos Republicanos, novo nome do partido mais importante da direita.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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