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    Clóvis Rossi

    Queda na Argentina ressuscita 'efeito Orloff'?

    26/12/2016 18h21 - Atualizado às 19h31

    Enrique Marcarian/Reuters
    Argentine President Mauricio Macri flanked by Finance Minister Alfonso Prat-Gay (L) and Chief Cabinet Marcos Pena (R), walks toward a news conference at the Olivos presidential residence in Buenos Aires, Argentina, May, 6, 2016. REUTERS/Enrique Marcarian ORG XMIT: BAS05
    Alfonso Prat-Gay, Mauricio Macri e Marcos Peña em Buenos Aires, em maio deste ano

    Houve uma época, no início dos anos 80, em que se cunhou a expressão efeito Orloff, com base em propaganda do vodka dessa marca. A propaganda dizia algo como "eu sou você amanhã". Como a Argentina, primeiro, e o Brasil, em seguida, adotaram planos econômicos heterodoxos, dizia-se, por analogia, que o Brasil amanhã seria a Argentina de hoje.

    De fato foi: os planos heterodoxos fracassaram sucessivamente nos dois países.

    É inevitável — e tentador — imaginar que quase 40 anos depois o "efeito Orloff" possa ressuscitar, agora que o ministro argentino da Economia, Alfonso Prat-Gay, foi demitido. Demissão que ocorre em uma época em que se falava, antes do Natal, em fritura de Henrique Meirelles.

    As semelhanças assustam (os que querem bem a Meirelles) ou entusiasmam (os que querem vê-lo pelas costas). A elas:

    Prat-Gay era o Meirelles de Mauricio Macri, o presidente argentino. Ou seja, o homem que ele exibia aos investidores estrangeiros e argentinos como a garantia de que seria revista a heterodoxia do governo Cristina Kirchner, responsabilizada pela anemia econômica do país (tal como aconteceu no Brasil com Dilma Rousseff e sua turma).

    Foi Prat-Gay o ministro que Macri levou a Davos, no início de janeiro, pouco depois de assumir, para falar à nata dos executivos-chefes do planeta, papel que exerceu com competência (e seu inglês perfeito).
    Se é verdade que Macri não deu total poder a Prat-Gay (dividiu a área econômica em seis ministérios), prevaleceu de qualquer forma a atuação do ministro da Economia sobre seus pares.

    Coube a ele, primeiro, desfazer o nó cambial que amarrava a economia argentina. Depois, foi Prat-Gay a face visível da renegociação da dívida argentina com parte dos credores que não haviam aceitado o acordo anterior (os chamados "fundos abutres").

    Com Meirelles é a mesma coisa: por mais que outros ministros - e até o presidente Temer - sentem-se a seu lado no anúncio de medidas (poucas e tímidas), o lugar central é sabidamente de Meirelles.

    O problema é que Prat-Gay não conseguiu entregar o crescimento que Macri havia prometido ao assumir.

    Podia não haver um número cravado, mas o presidente insinuou que, no segundo semestre, as coisas começariam a entrar nos eixos.

    Não entraram: o mais recente dado do Indec, o IBGE argentino, indica uma queda do PIB de 3,8% no terceiro trimestre, no acumulado ano a ano.

    No Brasil, a queda, para o ano de 2016, será parecida. Mas Prat-Gay deixa o cargo com um número imensamente mais dramático do que o que Meirelles pode exibir: a inflação fechará o ano acima de 40%, quando a meta oficial, no início do ano, era de já inaceitáveis 25%.

    A paciência de Macri, vê-se agora, durou um ano. Meirelles já está no cargo há sete meses. Se o "efeito Orloff" ressuscitar de fato não tem tanto tempo assim pela frente.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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