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    Clóvis Rossi

    Fórum Econômico Mundial propõe agenda com melhora do nível de vida

    19/01/2017 02h00

    Ruben Sprich/Reuters
    Área de convivência na sede de reuniões do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça
    Área de convivência na sede de reuniões do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça

    Os economistas do Fórum Econômico Mundial começaram nesta quarta-feira (18) a difundir a nova agenda para o crescimento e a inclusão, que equivale a um novo paradigma ou, em termos mais coloquiais, a dar um "lifting" na face de um capitalismo em visível crise.

    Como já tratei nesta segunda-feira, não se trata de substituir os conceitos tradicionais do chamado Consenso de Washington, hoje hegemônico, mas de deixar claro que ele "não conta toda a história", como diz Richard Samans, da diretoria do Fórum Econômico Mundial.

    Para esse economista, que já foi assessor em assuntos econômicos internacionais do presidente Bill Clinton, "falar de crescimento do PIB não conecta com o público. É preciso tratar de elevar o padrão de vida".

    Ou, posto de outra forma, trata-se de acrescentar aos mantras mais repetidos pelos homens de negócios e pelos economistas (crescimento e eficiência, aos quais eu acrescento lucro) "aumento da renda, aumento do emprego, qualidade de vida".

    Quem, como eu, é cético a respeito da possibilidade de governos e empresários fazerem um esforço para mudar o disco, vale informar que a nova agenda não é produto de um acesso de generosidade.

    Conta Samans que nasceu da "preocupação que os executivos [que frequentam Davos] têm com a erosão do respaldo social às políticas econômicas e à economia de mercado".

    A preocupação explodiu com a grande crise de 2008/09. Mas —acrescenta Samans—, cresceu com as deslocações provocadas pelas profundas mudanças tecnológicas em curso. Eles "sentiram o fogo", constata o principal responsável pela nova agenda.

    Sentiram mesmo: "Há uma crise de confiança na liderança", diz, por exemplo, Jim Hagemann Snabe, também da diretoria do Fórum, ao sair de um encontro do International Business Forum, uma das comunidades que Davos reúne sempre.

    Foi nesse encontro que a nova agenda começou a ser distribuída.

    É óbvio que ela também se vincula a fenômenos eleitorais como o "brexit" (a saída do Reino Unido da União Europeia) e a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos.

    Ambos os eventos são atribuídos a uma revolta de uma parte significativa da população —em especial da classe média— contra as lideranças tradicionais.

    O problema, no caso Trump, é que o presidente eleito se considera ele própria uma nova agenda, capaz de resgatar a classe média, os empregos e os padrões de vida suposta ou realmente perdidos.

    Quem não acredita pensa como o chanceler (primeiro-ministro) austríaco, o social-democrata Christian Kern, para quem "os populistas têm respostas, mas não têm soluções" para os problemas que os levaram ao poder.

    Vai ser difícil encontrar, no mundo contemporâneo, um populista mais clássico do que Donald Trump.

    A nova agenda trumpista pretende ter soluções para "redefinir o padrão de crescimento e como ele é difundido, de forma a ser socialmente inclusivo".

    Para um Brasil que não consegue nem sequer retomar o crescimento, redefinir o seu padrão, ainda por cima com inclusão social, seria uma (bem-vinda) revolução.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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