• Colunistas

    Saturday, 04-May-2024 06:24:45 -03
    Clóvis Rossi

    Prefiro que as urnas julguem Lula, a não ser que achem 'batom na cueca'

    13/07/2017 02h00

    Pedro Ladeira - 5.jul.2017/Folhapress
    Ex-presidente Lula é condenado a nove anos e meio de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro
    Ex-presidente Lula é condenado a nove anos e meio de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro

    Prefiro que Luiz Inácio Lula da Silva seja julgado pelos eleitores, no pleito presidencial de 2018, do que impedido de concorrer por uma decisão judicial.

    A menos, óbvio, que as investigações sobre o ex-presidente cheguem a um "batom na cueca", caso em que merece ser condenado e preso.

    Explico minha preferência, por partes. O que está comprovado até agora no que diz respeito a Lula:

    1- Que a Petrobras foi o epicentro de um gigantesco esquema de corrupção, durante o governo Lula (e também com Dilma Rousseff).

    As provas, nesse capítulo, são caudalosas, inclusive e principalmente a confissão de ex-diretores e devolução de dinheiro. Ninguém devolve dinheiro auferido legalmente.

    Se Lula participou do esquema de corrupção, não sei. Mas chefe que deixa roubar é sempre culpado.

    Que Lula sabia da corrupção, prova o fato, confessado por ele próprio, de que cobrou Renato Duque sobre o esquema montado na empresa estatal.

    2- Que o PT "se lambuzou" com a corrupção é também fora de dúvida. A expressão "lambuzou-se" não é do juiz Moro, mas de Jaques Wagner, um dos principais cardeais petistas.

    Lula, como principal liderança do partido, pode até ser inocente de tudo, mas, mesmo que o seja, demonstrou não controlar o apetite voraz de seus companheiros.

    Ou é conivente ou omisso.

    3- Que há uma escandalosa promiscuidade entre Lula e a Odebrecht e a OAS, entre outras construtoras.

    Lula se transformou em caixeiro viajante a serviço da Odebrecht, uma empresa que confessa ter adotado "práticas impróprias".

    Só Lula não sabia dessas práticas? O ex-presidente, no cargo ou depois de deixá-lo, nunca escondeu que "vendia" empresas, produtos e serviços brasileiros em outros países, entre eles principalmente a Odebrecht.

    Ou, posto de outro modo, a corrupção transformou-se, com Lula, em produto de exportação, de que dá prova, entre tantos outros fatos, o pedido da Procuradoria do Peru para que seja preso o ex-presidente Ollanta Humala, justamente pelo envolvimento com a construtora.

    É escandalosa a familiaridade com que Lula se referia, no depoimento a Moro, ao "Leo", que vem a ser Leo Pinheiro, presidente da OAS, que se deu ao trabalho de sair do seu escritório para servir como corretor para vender (ou doar) um apartamento a Lula.

    Entenda o caso

    Essa gestão também está comprovada e, mesmo que não haja ilegalidade, é moralmente inaceitável quando todos o mundo sabe que empresas como a OAS (e a Odebrecht) dependem de negócios com o poder público.

    O elenco de detalhes desabonadores para o ex-presidente poderia estender-se, mas já basta para voltar ao início deste texto: o ideal seria que o eleitorado decidisse se são suficientes para não votar em Lula ou se a maioria não se incomoda com eles. Diria muito sobre o Brasil.

    O afastamento pela Justiça, e não pelo voto, faria de Lula uma vítima aos olhos de 1/3, mais ou menos, do público. Em um país normal, não seria tão catastrófico. Mas, no terremoto em que o Brasil está envolvido, seria mais uma complicação.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024