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    Clóvis Rossi

    Diplomacia brasileira já se prepara para cenário de guerra na Venezuela

    20/07/2017 02h00

    Marco Bello - 18.jul.2017/Reuters
    Manifestantes mascarados ateiam fogo em blindado da polícia durante confronto em Caracas
    Manifestantes mascarados ateiam fogo em blindado da polícia durante confronto em Caracas

    O embaixador brasileiro em Caracas, Ruy Pereira, marcou para as próximas terça e quarta (25 e 26) uma reunião com os representantes diplomáticos na Venezuela para, segundo o chanceler Aloysio Nunes Ferreira Filho, discutir providências para proteger a comunidade de brasileiros no país na eventualidade de um agravamento de uma crise que já está em ponto de combustão.

    A conta mais recente indica que vivem na Venezuela cerca de 32 mil brasileiros.

    A iniciativa do embaixador é sábia, a julgar pela descrição que faz da conjuntura venezuelana um de seus melhores analistas, Luis Vicente León, responsável pelo centro de pesquisas Datanalisis:

    "O governo acredita que está morto politicamente se não consegue passar a sua Constituinte [votação convocada para dia 30]. Mas, da mesma forma, a oposição sente que essa Constituinte representa sua morte e também a da democracia, da República, dos direitos humanos e econômicos e as possibilidades de resgatar a paz", escreveu.

    Como nenhum dos lados em confronto quer morrer, é inevitável que soem tambores de guerra em um país já conflagrado por manifestações diárias há cem dias (96 mortos até agora) e por uma situação econômica e social que fica mais dramática a cada dia.

    O drama do dia (quarta-feira, 19): o custo da cesta básica subiu 24,1% de maio para junho. Em um ano, o aumento foi de 343,2%.

    Para poder adquirir a cesta básica, um venezuelano precisa de 18,9 salários mínimos.

    Não há quem consiga viver nesse ambiente, o que ajuda a explicar a notável mobilização para votar no domingo (16) em um plebiscito não oficial, convocado pela oposição.

    Compareceram, segundo os oposicionistas, 7,6 milhões de pessoas, que era o máximo para o qual se preparara a coalizão opositora MUD (Mesa de Unidade Democrática). Foram montados locais de votação para apenas um terço do eleitorado total (19,8 milhões), o máximo de capacidade logística que a oposição conseguiu. O comparecimento foi, portanto, praticamente o total do esperado.

    Com base nesse resultado, a MUD declarou nesta quarta-feira que a mudança de governo "é inevitável e iminente" e anunciou seu compromisso de "formar um governo de união nacional", para "garantir a governabilidade do país no caso de que se logre a saída de Nicolás Maduro do poder".

    A oposição acredita que o sucesso de uma greve geral convocada para esta quinta-feira (20) servirá para tornar ainda mais "inevitável e iminente" a queda de Maduro.

    Mas o governo não está nem remotamente disposto a ceder um milímetro nesta batalha.

    Toca, ele também, os tambores de guerra, na forma, por exemplo, da convocação do Conselho de Defesa. Trata-se do "organismo máximo de consulta para a planificação e assessoramento do Poder Público em assuntos relacionados com a defesa integral da Nação, sua soberania e a integridade de seu espaço geográfico".

    É, em tese, resposta à ameaça dos Estados Unidos de impor sanções à Venezuela, se não for desconvocada a votação para a Assembleia Constituinte.

    Na prática, contudo, é a preparação do governo Maduro para a guerra antevista pelo analista Luis Vicente León.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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