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    Clóvis Rossi

    Maduro entre sanções e uma saída

    23/07/2017 02h00

    Há quem ache indispensável impor sanções à Venezuela, pela desgraça que o governo de Nicolás Madurou provocou.

    Caso por exemplo de Christopher Sabatini, da Escola de Assuntos Internacionais e Públicos da mitológica Columbia University: "A pressão econômica pode trazer até o mais genocida dos autocratas à mesa de negociação" (ele cita como exemplo a antiga Iugoslávia).

    Prefiro pensar em exemplo contrário, bem mais próximo: 60 anos de bloqueio a Cuba foram absolutamente incapazes de provocar a queda do governo ou a mudança de suas políticas.

    Como Cuba é o modelo em que se ampara a Venezuela bolivariana, parece de sentido comum acreditar que tampouco em Caracas as sanções funcionariam.

    Exemplos à parte, há uma lógica para discordar de que sanções possam fazer efeito: elas visam prejudicar o funcionamento da economia de um país e, com isso, provocar a impopularidade do governo, o que, por sua vez, levaria a uma mudança de políticas (ou de governo, em caso extremo).

    Ora, no caso da Venezuela, essas circunstâncias já estão dadas, antes de qualquer sanção, pela absoluta incompetência e insanidade do próprio governo.

    A economia está em estado falimentar, o que leva 74,2% dos venezuelanos a ter opinião negativa sobre a gestão de Nicolás Maduro, de acordo com a mais recente pesquisa do instituto Datanalisis.

    Sanções poderiam eventualmente provocar uma deterioração econômica ainda maior, mas serviriam de pretexto para o governo insistir na fantasia que usa há décadas de que é tudo culpa da "guerra econômica" movida pelo "império" e por seus sequazes internos.

    Se sanções tendem a não funcionar, qual é o caminho a seguir? Para ser sincero, não vejo saídas, mas é preciso perseverar na busca de um freio à polarização que está criando um verdadeiro paiol na fronteira Norte do Brasil.

    Paiol que tende a explodir em exatamente uma semana, no dia 30, se o governo levar adiante a eleição de uma Assembleia Constituinte farsesca, sem sufrágio universal e com um colégio eleitoral à feição do regime.

    A explosão ainda pode ser evitada, mesmo que a votação se faça na data prevista, se o governo adiar o início de funcionamento da assembleia, para dar tempo para uma negociação com a oposição.

    Há observadores neutros que veem sinais de uma negociação subterrânea. Eu não vejo, mas é sintomático que a palavra "negociação" seja todo o eixo de artigo de sexta (21) em "El Nacional", de autoria do advogado e furibundo oposicionista Luis Alfonso Herrera Orellana.

    Escreve, por exemplo: "Em nenhum momento, [os opositores] colocam que é com uma guerra civil, uma ocupação militar estrangeira, um banho de sangue descomunal ou um golpe de Estado que deve encerrar-se a tirania chavista". Resta a negociação.

    Acrescento eu: para que a tirania acabe é preciso oferecer aos poderosos de hoje uma saída que não seja a cadeia. Uma anistia, um exílio dourado, algo. Não sei se está em discussão nem se é viável, mas a alternativa é botar fogo no paiol.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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