Pablo Martinez Monsivais - 15.ago.2017/Associated Press | ||
O presidente dos EUA, Donald Trump, ouve pergunta de repórter durante entrevista coletiva na terça (15) |
-
-
Colunistas
Monday, 06-May-2024 00:59:50 -03Clóvis Rossi
Trump vai à guerra, contra os EUA
17/08/2017 02h00
Há pelo menos duas imprecisões no rótulo de "nação perigosa" que Gideon Rachman ("Financial Times") sapecou nos Estados Unidos e se tornou viral.
Primeiro, é preciso dar nome ao perigo: não é propriamente a América, mas seu presidente, Donald Trump. Segundo, o risco maior quem corre são os próprios americanos, mais que o resto do mundo.
Por partes. Parte 1: de onde vem o perigo? Responde em "Wired" J. M. Berger, analista que estuda o extremismo: "O presidente ganhou com uma plataforma e com uma campanha que reflete e amplifica as prioridades da "alt-right" em geral e dos nacionalistas brancos especificamente".
A "alt-right", como se sabe, é a extrema-direita, diretamente representada no gabinete de Trump por Steve Bannon, que, antes de se tornar estrategista-chefe de Trump, dirigia o grupo de mídia Breitbart.
Parte 2: a edição digital da "Foreign Policy" informa que, já em maio, o FBI e o Departamento de Segurança Interna haviam divulgado relatório no qual afirmavam que os supremacistas brancos tinham efetuado mais ataques do que qualquer outro grupo extremista doméstico nos últimos 16 anos.
E alertavam que esperavam mais ataques.
Uma compilação do Fundo Investigativo do Nation Institute confirmava o cálculo e ia além: relatava que, entre 2008 e 2016, ataques pela extrema-direita superavam os incidentes atribuídos a islamistas na proporção de 2 para 1.
Quase dá para dizer que a "alt-right" e parentes próximos são mais perigosos, pelo menos internamente, do que o Estado Islâmico.
Parte 3 e corolário: na revista "The New Yorker", Robin Wright cita um especialista do Departamento de Estado em conflito interno cuja estimativa é a de que "os EUA têm 60% de chances de uma guerra civil nos próximos 10 a 15 anos".
Antes, um "pool" informal de especialistas reunido pelo jornalista e historiador Tom Ricks produzira uma estimativa mais baixa, mas ainda assim assustadora: a chance de uma guerra civil chegava a 35%.
Pode ser especulação excessivamente alarmista, mas é prudente anotar a observação que fez nesta quarta (16) Chris Cillizza, editor da CNN: "Trump é o que esperávamos que fosse. E essa pessoa é o oposto de um líder. E essa pessoa é perigosa para o bem-estar deste país".
De fato, a retórica de Trump, primeiro como candidato e depois como presidente, abriu as portas para que o racismo, implícito nos Estados Unidos nos anos mais recentes, se tornasse explícito —e violento, como revelam os números sobre os atos da extrema-direita.
Era inevitável que a belicosidade do presidente norte-americano provocasse uma reação igualmente irada de seus críticos, a ponto de Jennifer Rubin, no "Washington Post", atacar não apenas Trump mas todos os que servem na Casa Branca: "É moralmente reprovável servir nesta Casa Branca, apoiando um presidente tão completamente despreparado para liderar".
Prepare-se, pois, para o que o jornalista e historiador Tom Ricks prevê: "Um sério e persistente período de violência política e disseminada resistência à autoridade política".
É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.
Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br
Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.brPublicidade -