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    Clóvis Rossi

    Maduro ama a Odebrecht, que ama e é amada pelo PT

    21/08/2017 11h49

    Há um elo entre o PT e a ditadura venezuelana que vai além da cumplicidade com a violência, o desrespeito aos direitos humanos e o imenso fracasso administrativo: é a Odebrecht.

    Todo o mundo sabe, no Brasil, que o PT, enquanto esteve no governo, desenvolveu uma relação de promiscuidade com a construtora, conforme confessaram executivos da empresa, inclusive seu principal líder, Marcelo Odebrecht. Promiscuidade que se estendeu a outras empreiteiras, mas ficamos por hoje na Odebrecht.

    Agora, na Venezuela, a procuradora-geral Luisa Ortega Díaz, nomeada por Hugo Chávez e ilegalmente afastada pela fraudulenta Assembleia Constituinte, acaba de contar ao jornal espanhol "El País" qual foi a razão verdadeira da perseguição que passou a sofrer: é exatamente a Odebrecht.

    Segundo ela, agora exilada na Colômbia, a Procuradoria tinha "todos os detalhes de toda a cooperação [entre a empresa brasileira e autoridades venezuelanas], as quantias e personagens que enriqueceram". Completou: "Essa investigação envolve Maduro [o ditador Nicolás Maduro] e o seu entorno".

    Está explicado, portanto, o silêncio que envolve, na Venezuela, as escandalosas operações da Odebrecht, ao contrário do que ocorre nos vários países latino-americanos em que se detectaram as digitais da companhia.

    No Peru, por exemplo, há dois ex-presidentes acusados (Ollanta Humala e Alejandro Toledo), para não mencionar o caso de Lula, já condenado no Brasil e pendente de uma decisão de segunda instância.

    Segundo as investigações em curso no Brasil, a Odebrecht teria pago o equivalente a US$ 98 milhões (R$ 308 milhões) em subornos na Venezuela, no período que vai de 2006 até 2015 –dinheiro que, agora, a procuradora ilegalmente afastada diz ter enriquecido o entorno do ditador Maduro.

    A Odebrecht tem 11 projetos em execução na Venezuela.

    O patriarca da empresa, Emílio Odebrecht, na delação premiada que fez à Lava Jato, disse ter procurado o então presidente Lula para reclamar de um suposto favorecimento de altos funcionários brasileiros à Andrade Gutierrez em concorrências da Venezuela.

    Lula, segundo Emílio, ficou de "verificar o que estava acontecendo". Depois, sempre segundo o patriarca da Odebrecht, sua companhia acabou ficando com uma das obras.

    O ex-presidente, aliás, nunca escondeu que atuava em favor de empresas brasileiras em muitas de suas viagens ao exterior. Não via nenhum problema; até achava que era sua obrigação.

    Se se considerar que o relacionamento com Hugo Chávez sempre foi excelente, é razoável supor que a Odebrecht tenha se beneficiado dessa atuação na Venezuela.

    Agora, com a denúncia de Luisa Ortega Díaz e a consolidação da ditadura na Venezuela, fica difícil apurar não apenas a corrupção interna mas também o eventual envolvimento dos amigos brasileiros da empreiteira.

    Marco Bello - 31.jul.2017/Reuters
    Venezuela's chief prosecutor Luisa Ortega Diaz gestures as she speaks during a news conference in Caracas, Venezuela, July 31, 2017. REUTERS/Marco Bello ORG XMIT: MAB101
    Luisa Ortega Díaz, procuradora-geral deposta pela Assembleia Constituinte da Venezuela
    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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