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    Clóvis Rossi

    Xenofobia não ganha, mas pesará na agenda na Alemanha

    25/09/2017 02h00

    Christian Mang/Reuters
    Demonstrators protest against the anti-immigration party Alternative for Deutschland AfD, after German general election (Bundestagswahl) in Berlin, Germany, September 24, 2017. REUTERS/Christian Mang ORG XMIT: CHM20
    Manifestantes protestam contra o partido anti-imigração AfD (Alternativa para a Alemanha)

    É óbvio que a entrada da extrema-direita xenófoba no Bundestag, pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra, em 1945, seria a manchete da mídia no mundo todo ao informar sobre a eleição na Alemanha.

    Manchetes à parte, há, no entanto, uma outra maneira de olhar para a votação deste domingo (24): fecha-se com ela um ciclo eleitoral na Europa em que ficou demonstrado que a extrema-direita não tem a menor chance de chegar ao poder.

    Depois da vitória do "brexit" e da eleição de Donald Trump, esperava-se uma avalanche de triunfos do extremismo, mas a extrema-direita perdeu sucessivamente na Holanda, na França e, agora, na Alemanha.

    Se não está no horizonte a ocupação do poder pelos fascistoides do momento, a eleição alemã demonstra, ao contrário das duas outras, que a extrema-direita ganhou força suficiente para influenciar na agenda do país.

    O papel relevante da AfD (Alternativa para a Alemanha) já foi carimbado pela própria Angela Merkel: a chanceler disse, após confirmada a maioria (relativa) de seu partido, que trataria de recuperar os eleitores perdidos para a extrema-direita.

    Como foi a persistente crítica à acolhida de imigrantes pela Alemanha de Merkel a catapulta que levou a AfD a uma boa performance eleitoral, só há duas maneiras de acarinhar os eleitores da extrema-direita.

    A primeira, a mais civilizada, é convencer pelo menos parte deles que a imigração é boa para a economia, além de social e moralmente elogiável. Parece esforço inútil: a rejeição ao imigrante não se dá pelo lado econômico, mas por puro preconceito.

    Além disso, uma coisa é absorver imigrantes que vão chegando em quantidades digamos normais. Isso, a Alemanha sabe fazer, tanto que abriga 18,5 milhões de habitantes de origem estrangeiras, 9,5 milhões dos quais já são cidadãos alemães.

    Outra coisa, no entanto, é a avalanche de 1,5 milhão de refugiados chegados em 2015 e 2016.

    Se defender a imigração dificilmente convencerá os eleitores que a rejeitaram neste domingo, ao votar na AfD, o outro caminho é assumir a agenda da extrema-direita e endurecer com os imigrantes chegados mais recentemente, boa parte dos quais não está com a situação regularizada.

    Se de fato seguir esse caminho, Merkel perderá o rótulo de contraponto liberal a Donald Trump.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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