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    Clóvis Rossi

    Base de Temer vira gelatina, mas breca a 'sangria', a sua missão

    27/10/2017 14h54

    Quer dizer então que a base de Michel Temer virou gelatina, segundo o parecer de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, na entrevista ao sempre excelente Bernardo Mello Franco na Folha desta sexta-feira (27)?

    Que base, Rodrigo? Antigamente, dizia-se da esquerda que ela só se unia na cadeia. Agora, parece justo dizer que a direita que apoia Temer só se une contra a cadeia —a cadeia que ameaça um punhado de seus membros, envolvidos na Lava Jato.

    A cola que a une, de resto, já havia sido explicitada naquela gravação em que Romero Jucá, estrela dessa base, concordava com a necessidade de "estancar a sangria", sendo "sangria" as investigações contra políticos. Lembra-se?

    Em relação a Michel Temer, conteve-se de fato a sangria na patética sessão da Câmara de Deputados que barrou o envio da investigação sobre o presidente ao Supremo Tribunal Federal.

    Criou-se, então, uma situação em que o presidente da República não é considerado culpado mas também não é considerado inocente, visto que a investigação será iniciada depois que ele deixar o cargo no dia 31 de dezembro de 2018.

    É civilizado um país em que sua mais alta autoridade permanece 14 meses pendurado no cargo sem a escada da inocência? Não duvido nada que, reaberta a investigação e se Temer for declarado culpado, algum oposicionista levante a tese de que todos os atos que ele assinou são nulos de pleno direito.

    No Brasil, nem o passado é previsível.

    Quanto ao futuro, o que a gelatinosa base oferece ao país? Nada que seja polêmico, acredita Rodrigo Maia, que parece ter sólido conhecimento da alma de seus pares.

    Como nada de importante deixa de ser polêmico, nada poderá ser aprovado, a não ser projetos de menor calado que requeiram apenas maioria simples —e, assim mesmo, com mais algumas cenas explícitas de fisiologia como as que foram levadas ao ar nos últimos meses.

    Talvez até seja melhor assim. No atual governo —como, de resto, no anterior— a inação causa em geral menos danos do que a ação.

    A única ação que se imagina certa doravante é a busca frenética da reeleição para os deputados. E, para o centro e a direita, a busca frenética de construir uma candidatura que seja viável para derrotar Lula (ou, então, torcer para que ele seja condenado em segunda instância e fique, portanto, inelegível).

    Quatorze meses nada animadores, portanto, em qualquer circunstância e menos ainda em um país devastado por uma crise da qual emerge timidamente, sem muita consistência. Mas é o que temos para hoje e para o futuro imediato.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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