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    Clóvis Rossi

    Líder chinês leva vantagem sobre um Trump que produz disparates em série

    09/11/2017 02h00

    Se há de fato uma competição entre Estados Unidos e China pela liderança planetária, então a visita de Donald Trump a Pequim, iniciada nesta quarta-feira (8), parece uma vitória chinesa. Melhor dito: é uma derrota por ausência, não dos EUA necessariamente, mas de Donald Trump, o seu triste representante.

    Trump não poderia chegar à China em momento menos favorável: na véspera, o Partido Republicano perdera eleições emblemáticas.

    Damir Sagolj/Reuters
    O presidente dos EUA, Donald Trump, é recebido pelo líder chinês, Xi Jinping, em Pequim nesta quinta
    O presidente dos EUA, Donald Trump, é recebido pelo líder chinês, Xi Jinping, em Pequim nesta quinta

    Ganharam democratas em, por exemplo, Virgínia e Nova Jersey, além de Bill de Blasio, reeleito prefeito de Nova York. De Blasio e Ralph Northam, na Virgínia, fizeram campanha como porta-bandeiras anti-Trump. Deu certo.

    Consequência: "Os resultados eleitorais mostram que ele [Trump] permanece como o mais fraco presidente em primeiro ano na história moderna", escreve David Leonhardt, na "newsletter" de Opinião do "New York Times".

    Em contrapartida, não faz um mês que a revista "Economist" tascara na capa a foto do líder chinês Xi Jinping como "o homem mais poderoso do mundo".

    Toda a minha geração cresceu lendo, em todos os idiomas disponíveis, que o homem mais poderoso do mundo habitava a Casa Branca.

    É um claro sinal dos tempos, mas talvez apenas conjuntural. Não está escrito nem mesmo na Cidade Proibida que a China ultrapassou os Estados Unidos como a grande potência global. Por enquanto, Xi ultrapassou Trump, o que não quer dizer necessariamente que a China vai também ultrapassar os Estados Unidos com o passar do tempo.

    Há nesse fenômeno conjuntural muito mais uma questão de desconfiança e de desconcerto com o patético presidente americano do que um enfraquecimento real dos Estados Unidos propriamente ditos.

    A melhor definição para o desconcerto está na newsletter do "Expresso", excelente jornal português, cujo editor, Pedro Candeias, escreve: "A questão não é o que ele fez, até porque Trump não fez nada de verdadeiramente palpável e mensurável, mas o que representa. Provavelmente, Trump banalizou, normalizou e, no limite, tornou aceitáveis e toleráveis a inconsistência, o disparate, a irresponsabilidade nas redes sociais, as constantes guinadas no discurso e o vazio ideológico".

    É o exato oposto do "sonho chinês" que Xi vestiu de cores fortes durante o recente 19º Congresso do Partido Comunista da China.

    Desse contraste, decorre o fato de que "a China está aparecendo mais e mais para a Ásia como uma firme e estável grande potência, ao lado de uns EUA imprevisíveis e dos quais não se pode depender", escreve Mira Rapp-Hooper, pesquisadora-sênior do Paul Tsai China Center.

    Conclui Mira: Xi está capitalizando "uma crescente percepção regional de que uma inexorável transição de poder está ocorrendo, com os Estados Unidos em declínio terminal e todas as tendências relevantes trabalhando a favor da China".

    Repito: é um retrato do momento. Não acredito que os Estados Unidos estejam em declínio terminal, mesmo que as tendências continuem favoráveis à China. Afinal, os resultados eleitorais da terça são um lembrete de que Trump não é eterno. Sorte dos EUA (e do planeta).

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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