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    Clóvis Rossi

    A chanceler alemã Angela Merkel é poderosa, não foi?

    26/11/2017 02h00

    Axel Schmidt/Reuters
    A chanceler alemã, Angela Merkel
    A chanceler alemã, Angela Merkel

    Foi praticamente ontem: no início do mês, a revista "Forbes" divulgou a sua habitual lista das mulheres mais poderosas do mundo. Quem encabeçava o ranking? Angela Merkel, a chanceler alemã, aliás pela sétima vez consecutiva.

    Agora, no final do mesmo mês, a palavra que mais se fala no complicado alemão e sua mania de engatar uma palavra na outra é "Merkeldämmerung" ou o "crepúsculo de Merkel".

    Diz, por exemplo, a revista "Der Spiegel": "A noite de domingo poderá marcar o começo do fim da carreira política de Angela Merkel, após 12 anos na Chancelaria".

    O domingo a que se refere a revista é o anterior (19), quando se anunciou o fracasso das negociações para a formação de uma coalizão a quatro entre a democracia-cristã de Merkel (CDU), sua irmã na Baviera
    (CSU), os liberais (FDP) e os Verdes.

    Se eu fosse de apostar, cravaria que Merkel se elegeria de novo, se houver uma eleição antecipada ante o fracasso das negociações para construir uma coligação.

    Afinal, trata-se da "europeia indispensável", como escreveu Francisco Basterra, colunista do jornal espanhol "El País".

    As pesquisas recentes confirmam minha sensação: indicam que uma nova eleição repetiria os resultados da anterior (em setembro), na qual Merkel ficou na frente, mas sem a maioria absoluta.

    Ainda assim, parece claro que o desgaste da chanceler em tão pouco tempo comprova mais uma vez que o mundo está diante de uma formidável aceleração dos tempos. Prestígios e desprestígios (principalmente) vão e vêm como em uma gangorra alucinada.

    Posições supostamente definitivas mudam de repente: no caso alemão, a social-democracia que havia prometido não repetir a "Grande Coalizão" com a CDU/CSU já anuncia disposição para conversar.

    É um dado a levar em conta para o cenário brasileiro de 2018, com a ressalva óbvia de que Brasil e Alemanha são planetas à parte, pela história, geografia, idioma, costumes, economia e tudo o mais.
    Mas a globalização globalizou também determinadas tendências -entre elas, a da aceleração dos tempos.

    O que quero dizer é que candidatos que hoje parecem sólidos podem desmanchar no ar nos próximos meses. Ainda mais em um cenário em que não está certa a presença de Luiz Inácio Lula da Silva.
    Como Lula ou alguém por ele indicado (no caso Dilma) apareceu em todas as eleições desde a volta das diretas, em 1989, qualquer avaliação hoje corre o risco de obsolescência amanhã.

    Há uma segunda característica da discussão política alemã que deveria ser levada em conta no Brasil: "Os partidos envolvidos [nas negociações para uma coalizão] fracassaram em forjar a única coisa que é indispensável para manter unida tal aliança: confiança", escreve Philipp Wittrock, sempre em "Der Spiegel".
    Completa: "Confiança é a mais importante moeda em política".

    Como parece altamente improvável que algum partido possa governar sozinho a partir de 2019, quem confia em quem para formar uma parceria? Hoje por hoje, eu diria que ninguém confia em ninguém, mas há tempo para aprender essa lição -ou correr para nova crise do tal "presidencialismo de coalizão".

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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