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    Clóvis Rossi

    Huck acerta em suas propostas, inclusive na de não se candidatar

    27/11/2017 14h26

    Eduardo Anizelli - 20.out.2017/Folhapress
    O apresentador Luciano Huck dá palestra em São Paulo
    O apresentador Luciano Huck dá palestra em São Paulo

    Luciano Huck tem razão, no seu artigo desta segunda-feira (27) para a Folha. Dupla razão, aliás.

    Primeiro ao escrever o que tenho repetido faz anos e anos, inutilmente: o nojo à política e aos políticos –no pico, hoje, mas já antigo– não leva a lugar nenhum.

    Escreve o apresentador-ex-candidato: "Se não nos aproximarmos de fato da política, se seguirmos negando esse universo e refratários ao seu ambiente, ele definitivamente não se reinventará por um passe de mágica".

    É importante assinalar que, na sequência, Huck esclarece que não se trata necessariamente de integrar um partido político: "O melhor caminho passa obrigatoriamente pelos movimentos cívicos".

    A, digamos, agenda Huck é também correta, até por óbvia demais: "Políticas públicas afetivas e efetivas, políticas econômicas modernas e eficazes, educação levada a sério, saúde tratada com respeito, tecnologia que alavanque as boas ideias e total transparência dos gastos públicos. Por menos politicagem e por mais e melhor representatividade".

    Fácil de dizer, difícil de fazer. Desconfio até que, com essa agenda, Huck poderia ser candidato por qualquer partido, da direita à esquerda, passando pelo centro. É uma coleção de platitudes, repetidas uma e mil vezes nos programas gratuitos de propaganda eleitoral nos últimos 30 anos pelo menos (talvez nos últimos séculos).

    O diabo é como transformar em políticas concretas ambições tão respeitáveis.

    A favor de Huck, diga-se, em todo o caso, que sua agenda não contém aberrações ou propostas folclóricas, que também abundam em campanhas eleitorais.

    Eu não votaria em Huck, se ele fosse candidato. Não pretendo, aliás, votar em ninguém mais. Passei da idade em que o voto é obrigatório e passei da idade de me iludir com quem quer que seja. É uma contradição com minha defesa do envolvimento com a política?

    Talvez, mas acho que não. Entendo o jornalismo como uma prática política, nos seguintes termos: a nós, jornalistas, cabe fazer as perguntas e apontar os problemas; respostas, quem têm que dar são os políticos, no plano terrenal, e os religiosos, no plano espiritual.

    Não votaria em Huck não só por isso, mas por preconceito, admito. Fama e prestígio –atributos que ele inegavelmente tem– não bastam para pretender a Presidência. Ainda mais em um cenário que parece repetir o de 1989, quando alguns setores políticos tentaram atrair Silvio Santos –também apresentador, também famoso, também rico– para a candidatura presidencial.

    Era a maneira de impedir que o chamado "monstro Brizula" (a mistura de Leonel Brizola com Lula) prevalecesse - papel afinal desempenhado por Fernando Collor.

    Agora, Huck parecia a melhor bala de prata disponível para "matar" Lula.

    Não seria, portanto, uma renovação na política, mas um novo lance da "politicagem" que ele diz repudiar. Se fosse candidato, acabaria cercado pelos que cercaram Lula, inicialmente, e depois apunhalaram sua pupila Dilma.

    Sem ser candidato, Huck acaba dando, com as ideias que defendeu, uma contribuição maior do que se se aventurasse a disputar o Planalto.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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