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    Clóvis Rossi

    Ricos do Brasil, o seu candidato só pode ser o velho amigo Luiz Inácio

    15/12/2017 12h54

    Mateus Bonomi-13.dez.17/Folhapress
    O ex-presidente Lula participa da Expocatadores 2017, no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, em Brasília, nesta quarta
    O ex-presidente Lula participa da Expocatadores 2017, no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, em Brasília

    Se eu fosse rico, torceria para que Luiz Inácio Lula da Silva seja absolvido pelo TRF4 e, por extensão, possa se candidatar. E votaria nele.

    Afinal, os anos Lula/Dilma foram extraordinariamente proveitosos para os 10% mais ricos da população, conforme ficou demonstrado mais uma vez nesta quinta-feira (14) ao ser divulgado estudo dos economistas ligados ao badalado Thomas Piketty, referência no estudo da desigualdade.

    A fatia da riqueza apropriada pelos que estão no topo da pirâmide social é de 55% no Brasil, superior, por exemplo, a que cabe aos ricos americanos que não vai além de 47%, mesmo com o crescimento da desigualdade por lá.

    A porcentagem que cabe aos ricos já seria obscena por si só, mas torna-se ainda mais escandalosa quando se verifica que, de 2001 a 2015 (período quase todo sob Lula/Dilma), ela subiu: era de 54% e passou a 55%.

    O que não se pode dizer é que Lula mentiu: mais de uma vez, ele disse, durante seu governo e até depois, que os empresários jamais haviam ganhado tanto dinheiro como em seu reinado.

    Natural: Lula, vendido como "pai dos pobres", não tocou em um só fio de cabelo das elites brasileiras.

    Consequência inescapável: segundo a Síntese de Indicadores Sociais que o IBGE acaba de divulgar, a renda do 1% dos domicílios mais ricos é 38,4 vezes superior à dos lares dos 50% mais pobres.

    Se a situação social já era obscena com Lula/Dilma, ficou pior com Temer: em 2016, havia 24,8 milhões de brasileiros em situação de miséria (renda de até 1/4 do salário mínimo), crescimento de 53% em relação a 2014.

    Desconfio até que esse dado não captura a realidade: no sítio do Ministério de Desenvolvimento Social ainda no último ano completo do governo Dilma (2015), estavam cadastradas 52 milhões de pessoas com renda de até R$ 154. Como o salário mínimo era de R$ 788, tem-se que a porcentagem de miseráveis superava largamente o número agora difundido pelo IBGE.

    Se você quiser um pouco mais de tragédia, o IBGE acrescenta que 64,9% da população brasileira vive em situação de "pobreza multidimensonal", a que leva em conta, além da renda, outras características, como educação e saneamento.

    Tudo somado, tem-se que os 14 anos e pico de Lula/Dilma legaram uma tremenda obscenidade social, ainda por cima agravada por Temer, com o devido desconto para o fato de que o atual presidente pegou o país embicado no tobogã para baixo.

    Por que, então, os mais ricos temem Lula? Acham mesmo que ele vai pôr em prática, se eleito, o que diz como perseguido pela lei? Tolice. Lula, como ele próprio se define, é uma "metamorfose ambulante" e sabe que ninguém governa contra os mercados, que imediatamente sancionariam uma política que os contrariasse.

    Para enfrentar Lula, os ricos deveriam, em vez de torcer pela sua prisão e inabilitação eleitoral, apoiar um programa sério que enfrentasse a imensa chaga social medida agora pelo IBGE e aponta para quase 65% em "pobreza multidimensional".

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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