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    Clóvis Rossi

    Chile-17, espelho para 2018?

    17/12/2017 02h00

    Martin Bernetti - 21.mar.2017/AFP
    Chilean former president (2010-2014) Sebastian Pinera speaks to supporters during the announcement of his candidacy for "Chile Vamos" party for next November presidential elections in Santiago, on March 21, 2017. / AFP PHOTO / MARTIN BERNETTI ORG XMIT: SCL116
    O ex-presidente Sebastián Piñera, à frente nas pesquisas do 2º turno

    A campanha eleitoral chilena começou, no início do ano, com a perspectiva de que marcaria mais um avanço do liberalismo na América do Sul, superando o ciclo esquerdista dos primeiros anos do século.

    Chega ao fim neste domingo (17) como mais uma tradicional batalha entre esquerda e direita, em que o liberalismo é apenas tangencial. É verdade que Sebastián Piñera, presidente entre 2010 e 2014, faz parte tranquilamente do clube liberal que ganhou na Argentina, com Mauricio Macri, e no Peru, com Pedro Pablo Kuczynski.

    E ascendeu também aqui no Brasil, não pela desejável via eleitoral e nem tanto por Michel Temer em si, mas pela agenda liberal que ele encampou.

    Acontece que o inesperado empate entre esquerda e direita no primeiro turno forçou ambos os candidatos a correrem para os seus próprios lados, Piñera para a direita e o senador Alejandro Guillier para a esquerda.

    Como, no Chile, as reformas liberais já foram feitas —e de forma radical— pela ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), Piñera usou pouco dessa linha programática durante a campanha.

    Centrou-a no crescimento econômico, território no qual leva vantagem, na comparação com o governo de Michelle Bachelet: neste, o crescimento foi inferior a 2% ao ano (1,5% em 2017, prevê a Cepal); com Piñera, chegou a cerca de 5%.

    Crescimento é, obviamente, uma agenda inescapável para qualquer candidato, de direita, de centro ou de esquerda.

    Talvez por isso Guillier tenha acrescentado ao crescimento o combate à desigualdade —uma chaga aberta também no Chile, que a ditadura aprofundou e a democracia não foi capaz de reduzir.

    O candidato oficialista deslocou-se tanto para a esquerda que seu comício de encerramento foi animado por dois nomes históricos da esquerda latino-americana: o conjunto folclórico chileno Inti Illimani e o ex-presidente uruguaio José "Pepe" Mujica.

    Guillier necessita desesperadamente atrair os eleitores da coligação esquerdista Frente Ampla, um conglomerado de movimentos sociais que obteve 20% dos votos no primeiro turno e ficou a apenas dois pontos percentuais de tirar a vaga do senador no segundo turno.

    Ele obteve o apoio de um punhado de líderes da Frente Ampla, inclusive de sua candidata presidencial, Beatriz Sánchez.

    A eleição dirá se basta para quebrar o desânimo do eleitor chileno (só 43% se animaram a votar no primeiro turno).

    O apoio a Guillier tem preço: Alberto Mayol, que perdeu para Beatriz Sánchez a disputa interna na Frente Ampla pela candidatura presidencial, diz que o objetivo do voto em Guillier "é remediar as carências de seu projeto; será um desafio, talvez uma disputa".

    Já Piñera angariou o apoio de Mauricio Macri, o presidente argentino, o que permite alguma aproximação ao pleito brasileiro do ano que vem, com a ressalva de que cada país tem suas peculiaridades e de que nenhuma comparação é perfeita.

    De qualquer forma, uma vitória de Piñera dará gás aos liberais brasileiros, se conseguirem achar um candidato realmente viável. Se Guillier vencer, a leitura é a de que a esquerda é mais forte se se unir.

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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