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    Clóvis Rossi

    O PSDB pode jurar inocência, mas conhecia o cheiro (ruim) do dinheiro

    20/12/2017 11h29

    Avener Prado - 12.dez.2017/Folhapress
    Trecho sul do Rodoanel, que foi superfaturado, segundo o TCU
    Trecho sul do Rodoanel, que foi superfaturado, segundo o TCU

    O tucanato pode dizer o que quiser a respeito das denúncias de formação de cartel pelas empreiteiras para ganhar obras em diferentes Estados/prefeituras governados pelo PSDB, em especial São Paulo.

    A rigor, nenhum grande nome do partido deixou de ser citado no noticiário a respeito: José Serra, Geraldo Alckmin, Alberto Goldman, Tasso Jereissati, Beto Richa, Antonio Imbassahy, Aécio Neves.

    É de praxe deixar claro que a denúncia não cita explicitamente nenhum deles. As irregularidades ocorreram durante o mandato deles e não necessariamente foram praticadas por eles.

    Feita essa ressalva, no entanto, fica igualmente claro que, se as investigações em curso avançassem celeremente e se se comprovasse que são todos culpados, o partido teria que ressuscitar João Doria como candidato presidencial, até porque não exercia cargo público à época dos fatos que agora vêm a público. Ou então buscar Fernando Henrique Cardoso no exílio em Higienópolis a que foi condenado pelo próprio partido.

    Os citados não podem ser considerados culpados aos olhos da Justiça. Mas do ponto de vista ético e moral, são inequivocamente culpados.

    E quem o diz, implicitamente e sem ter tratado do caso específico, é o ministro Luís Roberto Barroso, do STF. Seu raciocínio é perfeito: não importa para onde vai o dinheiro "doado" por agentes privados (se para o bolso do agente público ou para sua campanha eleitoral). Importa é de onde vem.

    Vem das empreiteiras e ninguém tem o direito de ignorar que, há muitas décadas, as empreiteiras são uma formidável usina de corrupção. Basta lembrar que a sigla OAS era traduzida como "Obras Arranjadas pelo Sogro", durante o reinado de Antônio Carlos Magalhães na Bahia, cujo genro fora um dos criadores da construtora.

    Todo o mundo tinha a obrigação de saber que doações da Odebrecht ou de suas empresas cúmplices na formação de cartéis desmentiam a velha frase latina segundo a qual "pecunia non olet" (dinheiro não tem cheiro). Tem sim. Cheira mal quando vem dessa turma.

    Portanto, político, se honesto e se não quer correr riscos, recusa esse tipo de doação, recusa qualquer envolvimento, qualquer promiscuidade.

    Ingenuidade minha? Sem dúvida. Mas a alternativa é passar a vida se explicando, jurando inocência –juras que a opinião pública desconsidera, tal o volume de denúncias e de provas apresentadas contra parte significativa do mundo político.

    Desconfiar dos políticos já é uma realidade instalada e inamovível. Mas não dá para deixar de lado o fato de que a marca Odebrecht está associada hoje a uma formidável coleção de políticos –e não só no Brasil.

    Para ficar apenas nos postos públicos mais graúdos, todos os presidentes peruanos deste século estão sendo acusados no chamado "escândalo Odebrecht". Um deles, Ollanta Humala, está até preso, junto com a mulher Nadine. Outro, Alejandro Toledo, está foragido. No Equador, quem está preso é o vice-presidente, Jorge Glas.

    É o veneno que escorre desse capitalismo mafioso –não há outro termo– que agora pega o PSDB de baciada, depois de ter escorrido pelo PT, PP, PMDB, entre outros partidos. Mudar os políticos é até fácil: basta não votar mais nos culpados ou mesmo nos suspeitos (vale aqui aquela velha história de que à mulher de César não basta ser honesta; tem que parecer ser honesta. Para políticos, é a mesma coisa).

    Se na improvável hipótese de que todos os políticos sob suspeita sejam defenestrados, quem garante que as Odebrecht da vida não comprarão também os que os substituírem?

    clóvis rossi

    É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.

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