RIO DE JANEIRO - Mais do que traficantes presos e toneladas de drogas e armas apreendidas, o grande ganho da operação das forças do Estado e tropas federais para ocupar a Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão foi o apoio da população.
Não só daquela parcela das classes média e alta que sempre clama pela intervenção das Forças Armadas. Desta vez, o apoio veio também, incondicional em seu primeiro momento, dos moradores das várias favelas que tomam a região.
Isso mostra o quanto essas pessoas viviam aterrorizadas e destrói o mito de que os traficantes eram quase Robin Hoods, filantropos preocupados com o bem-estar de suas comunidades.
Provam esse apoio as cartas anônimas com indicações de esconderijos de armas e drogas entregues furtivamente aos agentes da lei, o número recorde de ligações para o Disque Denúncia e os bilhetinhos emocionados -e emocionantes- pedindo que o Estado não os abandone mais uma vez.
É esse o grande capital que o secretário José Mariano Beltrame não pode permitir que se esvaia. Denúncias de excessos cometidas por policiais contra moradores precisam ser investigadas com rigor.
Mais ainda, é preciso apurar os indícios de que houve facilitação para fuga de chefões do tráfico e de que esteja ocorrendo desvio do material apreendido. Isso, como mostrou ontem reportagem de Diana Brito e Hudson Corrêa, está sendo feito. Cabe a Beltrame informar à população o que for descoberto.
Só assim a confiança dos moradores na atuação das forças do Estado será mantida. Pezão e FB, chefes do tráfico nas favelas, escaparam ao cerco policial? É pena, mas precisamos saber como isso se deu.
Mantida a confiança da população de que é sério o trabalho para livrar o Rio do tráfico, novas cartas e novas ligações para o Disque Denúncia com certeza ajudarão o secretário a encontrá-los.