RIO DE JANEIRO - Imagine um pai de família, morador do subúrbio, que acorda ainda de madrugada para ganhar seu sustento fazendo pequenos serviços a bordo de sua Kombi. Trabalho legalizado, nada fora da lei.

Num belo domingo de sol, para aproveitar a folga, resolve levar a mulher, as crianças e alguns amigos para um dia de lazer em Ipanema. Põe a turma toda no carro e sai cedo. Ele sabe como é difícil arrumar uma boa vaga na orla para estacionar.

Corre o risco de acabar o domingo com a Kombi rebocada e perder pelo menos os próximos dois dias de trabalho tentando resolver o emaranhado burocrático para retirar o carro do depósito para onde foi levado.

Resolução da Secretaria Municipal de Transportes de 29/11 proíbe caminhões e caminhonetes dos tipos van, Kombi, furgão e similares de estacionar na orla da zona sul, da Barra e do Recreio dos Bandeirantes. Estende a proibição às ruas perpendiculares, até o primeiro quarteirão.

Não haveria impedimento se nosso personagem levasse a família para uma praia da zona norte. A resolução não impede o estacionamento, por exemplo, no piscinão de Ramos ou nas praias da ilha do Governador.

Dá para imaginar o objetivo da determinação da Secretaria de Transportes. Muitos dos barraqueiros que exploram o comércio nas praias cariocas transformaram carros em depósitos de alimentos, bebidas, cadeiras e guarda-sóis. Possivelmente, alguns desses veículos há meses não saem do lugar. Legítimo coibir esse uso irregular das chamadas vagas rotativas.

Mas não é o que diz a resolução. O texto simplesmente proíbe o estacionamento desses veículos, sem a ressalva de que estão proibidos os usados como depósito de mercadorias.

Somando-se essa decisão à de revistar, nos fins de semana, ônibus que saem da zona norte rumo às praias da zona sul, fica a sensação de que teremos um verão esquisito. Pode não ser, mas parece preconceito.