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    Denis Cisma

    Feito em casa

    08/03/2015 22h48

    Márcia Aurin Romero, 29 anos, arquiteta, é a caçula de três irmãos. É também a única filha mulher, o que despertava certo ciúme no seu pai, Ari Romero.

    Quando ela tinha 13 anos, Ari só a deixava ir às matinês de uma casa noturna no Tatuapé se fosse a bordo do seu lindo Ford Custom Fordor Sedan ano 1951, recém-reformado.

    Ari sabia que o carro chamaria mais atenção, como ele mesmo descrevia, que uma melancia amarrada ao pescoço.

    A filha, claro, não queria chegar à festa feito uma noiva. E, para evitar a vergonha, desistia de ir -o que, afinal, era o objetivo do seu ciumento pai.

    No entanto, a relação dela com o carro não era de ódio, mas, sim, de orgulho.

    Denis Cisma/Folhapress
    Márcia Aurin Romero, 29 anos, e seu Ford Custom Fordor 1951
    Márcia Aurin Romero, 29 anos, e seu Ford Custom Fordor 1951

    Seu pai, que trabalhou por 30 anos na Ford, restaurou o Custom com suas próprias mãos. Soldou, lixou e pintou a carroceira em um processo que durou dois anos, trabalhando depois do seu expediente na empresa.

    Certos detalhes teve que improvisar, como um apoio de braço em fibra e um emblema feito em durepoxi.

    Pintou metade do carro em azul e a outra em amarelo para ver qual queria.

    Com o Custom restaurado, Ari participava com frequência dos encontros de carro antigo, e Márcia sempre o acompanhava. Seus irmãos estavam grandes para querer sair com o papai.

    O carro ficou completo com acessórios de época como o quebra-mato com emblema do Corinthians e o "sunvisor", uma viseira gigante colocada no para-brisa.

    Sem mais nada para fazer no Ford Custom, Ari resolveu comprar outro antigo, um Ford Landau.

    Ele tinha sido responsável pela linha de montagem dos rádios Philco-Ford e adorava o modelo.

    Em 2002, quando se preparava para levar o Landau ao tradicional encontro no Sambódromo do Anhembi, Ari faleceu devido a um ataque cardíaco.

    Deixou a paixão pelos automóveis antigos, bem viva, nos filhos e na esposa Maria, que mantém o carro do jeito que Ari reformou.

    retrovisor

    Escreveu até junho de 2016

    por Denis Cisma

    Conhecido como Denis Cisma, é diretor de filmes premiado em Cannes e Clio Awards. É um entusiasta do universo automotivo.

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