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    Denis Cisma

    A mesma foto, 50 anos depois

    13/03/2016 02h00

    Quando Jorge Lakatos passou no vestibular, na década de 1960, ganhou de seu pai um Willys Interlagos conversível.

    Alguns anos depois, trocou o modelo por um mais novo, dessa vez com capota rígida. Era uma versão Berlineta, azul com interior vermelho.

    O carro tinha toca-discos que aceitava compactos, um opcional raríssimo. O equipamento funcionava relativamente bem, mas pulava de faixa ao passar por pisos acidentados.

    Com o automóvel parado, no entanto, era possível ouvir os discos de Françoise Hardy perfeitamente, trilha sonora favorita para encontrar a namorada.

    O esportivo, muito baixo, exigia um certo contorcionismo para Lakatos entrar: ele tem 1,86 m de altura.

    O dono se recorda da carona que deu a um tio da ex-esposa. Na chegada, estacionou o Willys muito próximo ao meio fio. O parente teve que se contorcer para conseguir desembarcar do automóvel.

    Era como escapar de um buraco colocando as pernas para fora primeiro. Não havia maneira de tirá-lo do cupê esportivo. O tio, gordinho, teve que pedir para Lakatos procurar outra vaga.

    Anos depois, o carro foi vendido. O Interlagos deu lugar a um Ford Corcel, lançamento da época. Era muito difícil usar o Willys no dia a dia.

    Esquecido, o cupê só voltou aos pensamentos de Lakatos quase 50 anos depois. Foi visitando uma exposição de clássicos na cidade de Santos que ele viu três Interlagos abrindo o evento.

    E decidiu que teria um novamente.

    Passou um ano procurando até achar uma sucata, que foi restaurada por meses até virar cópia fiel do seu carro na universidade. Com direito à mesma vitrolinha, garimpada na Alemanha.

    "O engraçado é que esse automóvel, no passado, não tinha a importância que dou para ele atualmente" diz Lakatos, hoje com 70 anos.

    O sentimento nostálgico de ter um carro antigo é compreensível: nós envelhecemos, os carros, não.

    Arquivo Pessoal - Denis Cisma/Folhapress
    Jorge Lakatos, em 1966 e hoje, com seu Willys Interlagos 1965
    Jorge Lakatos, em 1966 e hoje, com seu Willys Interlagos 1965

    retrovisor

    Escreveu até junho de 2016

    por Denis Cisma

    Conhecido como Denis Cisma, é diretor de filmes premiado em Cannes e Clio Awards. É um entusiasta do universo automotivo.

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