- Quem é Myriam Muniz?

- Você não sabe quem é Myriam Muniz?!!

Levei uma bronca no meio da festa. Eu era uma estrangeira na cidade e uma das maiores delícias adquiridas em minha nova condição era o poder de perguntar.

Mas eu acabara de abusar do tal poder e passava naquele instante um atestado de minha ignorância. Com 24 anos, pouca experiência e querendo absorver cada gota do que me estava sendo dado, eu me encontrava completamente deslumbrada com a Sampa de Caetano.

E nem precisava de espelho para achar tudo lindo. Ficava hospedada no antigo Hotel Jaraguá, e cada canto descoberto em minhas primeiras andanças pela Barão de Itapetininga e Sete de Abril já me pareciam encantadores.

	Ilustração Zé Vicente

Que cidade! Era a primeira vez que eu ficava realmente sozinha em minha vida. Tinha sessão do espetáculo à noite, mas eu acordava cedo e ia bater perna.

A principal imagem de São Paulo que eu tinha na cabeça ainda era as chamas do Joelma que me assustaram menina em frente à televisão. Apesar de a fuligem que cobria os prédios do Centro sempre me parecer um resquício deixado pelo incêndio da minha infância, a cidade cinza ia se colorindo dia após dia diante dos meus olhos.

Antes de eu vir, um amigo me falou: "Você não vai voltar". De fato. Nunca mais voltei.

Pois foi o mesmo amigo que me disse que em São Paulo todo mundo tinha um projeto. "Você vai tomar café num boteco e o cara que te atende tá abrindo uma borracharia com o amigo do balcão."

Com projeto ou não, eu queria ficar. São Paulo me dava vontade de viver. Minha anfitriã na cidade foi nada mais nada menos que Ileana Kwasinski. Minha amada Ileana, que tanto me ensinou a respeito do nosso ofício e ainda muito mais a respeito da vida e seu extraordinário.

Cá estará ela para sempre soprando em meus ouvidos cada detalhe desta estonteante beleza urbana.

Depois de me dar a bronca, foi ela que me fez conhecer uma das maiores atrizes deste país: a tal da Myriam Muniz.