Vamos lá! Vamos animar! Mas que está esquisito, lá isso está. Entre estádios inacabados, infraestrutura pela metade, campanhas políticas, greves e manifestações, fico aqui à espreita de um ímpeto qualquer que me faça tirar a bandeira da gaveta e colocá-la na janela. Falta uma semana e minha vontade não vem.

Os meninos chegaram, ainda decoro os nomes. Difícil criar vínculo com rapazes que nunca vimos jogar e que agora estão encarregados de ressuscitar nossos corações. Que responsabilidade, coitados! Estavam lá no estrangeiro, batalhando seus milhões. São profissionais. Futebol é coisa de profissional. Estádios, preço do cachorro-quente, homens de terno e gravata, tudo profissional. Mas meu coração torcedor ainda é amador.

Meus filhos compraram o álbum da Copa. Oportunidade pra descobrir quem é quem. Sentamos juntos para abrir os pacotinhos quando vejo que uma das figurinhas é nada mais nada menos que a publicidade de um curso de inglês. Caramba! O cara tem a coragem de me roubar uma das figurinhas com um cromo publicitário! Mais: contar com a minha paciência de tirar aquela película infernal para colar seus milhões no meu álbum! Até tu, Brutus! Ponha seu anúncio onde quiser! Mas não conte comigo para este mundo traduzido em cifras!

Talvez seja mesmo a quantidade de cifrões parados na garganta que esteja impedindo minhas vuvuzelas. Ainda sinto sob os pés o asfalto quente da minha rua, onde pintávamos com o nosso próprio dinheiro uma enorme bandeira a cada Copa, e não consigo profissionalizar o meu torcer.

Mas deixa a bola rolar! Penso na imagem de David Luiz na Copa das Confederações, de nariz sangrando, teimando em continuar no jogo, e acredito que atletas profissionais podem ter seus dias de super-heróis. De bola no pé, vão entrar em minha casa e possivelmente resgatar a bandeira da gaveta pra pendurá-la na janela.