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    Edgard Alves

    Incômodo esportivo

    22/06/2013 03h00

    As manifestações que se espalham pelas cidades do território nacional em protesto contra o desrespeito generalizado ao cidadão --descaso com as áreas de saúde, educação, segurança e transporte--, alta no custo de vida e corrupção nas esferas política e governamental mostram uma nova cara da população brasileira. Aliás, bem-vinda, volto a repetir, apesar de alguns exageros nos protestos mais recentes.

    Outros alvos dos manifestantes são os gastos extravagantes na preparação dos grandes eventos esportivos, assumidos espontaneamente pelo país, como a Copa das Confederações, em andamento, a Copa do ano que vem e Olimpíada-2016. O Brasil, motivado por iniciativas da Confederação Brasileira de Futebol e do Comitê Olímpico Brasileiro, e amplo respaldo governamental, se empenhou para garantir o direito de promover tais competições.

    E seu desejo foi atendido. No caso dos torneios de futebol, sem concorrência, na condição de candidato único; no da Olimpíada, teve de superar propostas de Madri, Tóquio e Chicago. O Brasil, na verdade, assumiu uma façanha, a de promover em sequência uma Copa e uma Olimpíada, antes encampada apenas uma vez na história, pelos EUA, potência econômica, com a Copa-94 e a Olimpíada-96.

    Enfim, o país pleiteou e recebeu os eventos, que o passar do tempo mostra, sem dúvida, serão festas sofisticadas, de incontáveis demandas, que exigem volumosos recursos, e imenso sacrifício.

    Ganhou? A resposta só virá após o balanço derradeiro, final, de complicadas contas, costurando gastos das competições propriamente ditas, construções do parque esportivo e demandas de infraestrutura das cidades, tudo com o toque mágico de dinheiro público. A expectativa aponta para a possibilidade de um saldo negativo, igualmente de difícil previsão. É a sensação que começa despertar, e assusta.

    Houve comemoração em várias cidades quando as propostas brasileiras foram aprovadas pela Fifa e pelo COI, organizações com 208 e 204 associações afiliadas, respectivamente. Ou seja, compromissos ligados às representações de mais de 200 países, implicando interesses econômicos incalculáveis.

    Vozes contra a maré de euforia foram raras, porém não repetitivas, que passaram praticamente despercebidas. Até os gastos de campanha das candidaturas transcorreram sem arranhões, e variados setores da economia soltaram rojões pelo êxito nas conquistas das sedes, vislumbrando lucros com os futuros acontecimentos em casa.

    A Copa das Confederações é o início dessa obra, um ensaio para o Mundial de futebol e a Olimpíada. Uma espécie de primeiro dia de desfile das escolas de samba. E, como em todo Carnaval, vai ter a quarta-feira de Cinzas. Mas corre-se o risco de lá chegar com a fantasia rasgada, ou sem ela.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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