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    Edgard Alves

    Gangorra olímpica

    03/08/2013 03h00

    O governador Sérgio Cabral voltou atrás, de supetão, na decisão de demolir dois tradicionais centros esportivos do Rio, o Estádio de Atletismo Célio de Barros e o Parque Aquático Julio Delamare, alterando o plano de obras para a Olimpíada de 2016 e para a Copa do Mundo.

    O recuo surpreendente do governador levanta dúvidas sobre se aqueles projetos tinham sentido, alguma importância. Parece que não, já que uma canetada mudou o cenário. Também abriu caminho para novos interesses e negociações com o consórcio-gestor do complexo do Maracanã, onde se localizam as duas praças e o estádio.

    Na verdade, criou um motivo para que o acordo de privatização do local possa ser rediscutido e até mesmo anulado. A empresa pretendia explorar comercialmente a área livre. Aparentemente, Cabral, que admite deixar o governo estadual para concorrer a uma vaga no Senado em 2014, cedeu. Será?

    Acossado pelas manifestações nas ruas e pela péssima avaliação de gestão, o governador sai da zona de conforto de que vinha desfrutando até pouco tempo atrás, especialmente em relação aos compromissos de organização dos grandes eventos esportivos internacionais.

    Além disso, a medida atende a orientações da Justiça, do Iphan, a apelo de atletas e a uma reivindicação de dirigentes esportivos do atletismo e da natação.

    Os trabalhos do comitê Rio-2016, organizador da Olimpíada, transcorrem sem grandes pressões, mas sinalizam com a necessidade de mudanças. Por enquanto, discretas.

    O TCU (Tribunal de Contas da União), por exemplo, aponta atrasos nas obras de construção do complexo esportivo de Deodoro, que abrigará sete esportes dos Jogos.

    Mais graves foram os indícios de sobrepreço, também apontados pelo TCU, nas obras de construção das novas instalações do Ladetec, o laboratório especializado em testes antidoping, planejado para assumir todas as análises com tal finalidade durante o evento. O custo inicial do laboratório foi estimado em R$ 29 milhões, mas já teria saltado para cerca de R$ 85 milhões. E a execução está só na fase intermediária.

    Não bastassem essas celeumas, o comitê Rio-2016 tem ainda que se safar de uma autêntica sinuca de bico, daquelas que exigem inúmeras tabelas para driblar um fracasso. Precisa anunciar o reajuste na previsão orçamentária dos gastos para a realização dos Jogos. É questão de transparência, fundamental e necessária na gestão pública.

    Em 2009, quando da conquista do direito de organizar a Olimpíada, a previsão orçamentária anunciada foi de US$ 14,3 bilhões (cerca de R$ 32,5 bilhões). E agora, como está? O canteiro olímpico de obras segue ativo, sem uma estimativa atualizada de custos. O contribuinte, que é quem paga a conta, merece uma satisfação. Vai cobrá-la, com certeza. Mas essa é outra história.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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