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    Edgard Alves

    A meia verdade da conta olímpica

    25/03/2014 02h00

    Mesmo sendo apenas uma estimativa, já é tempo de os brasileiros ficarem sabendo, de fato, quanto os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio, vão custar.

    Os três níveis de governo –federal, estadual e municipal– e o comitê Rio 2016 trabalham para fechar a conta com a conclusão do plano de organização do evento, apontando responsabilidades e quem vai pagar o quê.

    A comissão do Comitê Olímpico Internacional responsável pela inspeção das obras, cumprimentos de prazos e pelo andamento dos preparativos gerais de organização dos Jogos esteve no Rio, na semana passada. Ela pouco relatou sobre o que viu e discutiu, mas deixou claro que o mais importante, por ora, é superar a indefinição do plano geral de obras e das responsabilidades.

    Por isso, integrantes da comissão avaliaram como "crucial" a próxima reunião dos organizadores brasileiros, sem a participação do COI. Não há tempo a perder –faltam 863 dias para a cerimônia de abertura dos Jogos–, e decisões precisam ser tomadas imediatamente, para evitar atrasos, e com eles aumentos sem razão nos custos.

    Para se ter uma ideia da situação, em janeiro passado, quatro anos e três meses depois de a cidade ter sido escolhida como sede do evento, dos 52 projetos listados, apenas 24 tinham orçamento definido.

    As obras com custo divulgado somavam R$ 5,6 bilhões. No dossiê da candidatura, em 2009, a estimativa total de gastos –dos Jogos propriamente ditos e de infraestrutura– era de cerca de R$ 28 bilhões.

    Além das barreiras de prazo, para piorar, os planos ainda correm risco de sofrer alterações. A prefeitura do Rio, por exemplo, estuda a possibilidade de mudar da zona portuária da cidade para Jacarepaguá o local da vila que abrigará mídia e árbitros. Não é pouco. Ela foi projetada para 3.034 quartos, dos quais 2.800 seriam utilizados na Olimpíada.

    É a hora da verdade olímpica, ou melhor, da meia verdade, pois somente após a conclusão das disputas em 2016 da Olimpíada e dos Jogos Paraolímpicos é que se conhecerá, com segurança e precisão, o tamanho do rombo.

    Apenas lá é que vai ficar claro se foi ou não um projeto megalomaníaco do governo brasileiro assumir tal compromisso, tese defendida por incontáveis contribuintes.

    Então, haverá também respostas contundentes para a pergunta: valeu ou não a pena? Ou se a conquista do direito de realizar os Jogos, comemorada em vários pontos do país, não passou de uma boa iniciativa que acabou sendo mal executada?

    O aguardado posicionamento dos responsáveis pela Olimpíada deve chegar em momento de tensão na área esportiva nacional. Tanto pelos atrasos em obras e gastos exagerados, sem pé nem cabeça, às vésperas da Copa do Mundo de futebol, como pelo escândalo envolvendo a confederação de vôlei e o Banco do Brasil.

    A parceria CBV-BB, em contratos de patrocínio, resultou em denúncias de polpudas e repugnantes comissões para intermediários. São abusos nos dois badalados esportes nacionais na atualidade, que ninguém aguenta mais.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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