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    Edgard Alves

    Agenda olímpica fica negativa

    15/04/2014 03h01

    Superada a convulsão da semana passada, quando o Brasil se viu pressionado pela cartolagem internacional por causa da lentidão e atrasos no processo dos preparativos para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio, a agenda olímpica, até então positiva para todos os entes nacionais envolvidos, passou a ser negativa.

    Foi assim que a deixaram os responsáveis pelo evento -comitê Rio 2016, o organizador, e governos das áreas federal, estadual e municipal. O federal, que deve bancar grande parte das obras, ganhou evidência, natural, por ser o mecenas do circo olímpico, o principal provedor.

    Desde que o Brasil reivindicou e conquistou o direito de organizar e promover a Olimpíada, em outubro de 2009, em concorrida votação na Dinamarca, o enorme porte do desafio, que exigiria trabalho árduo e competência, era conhecido. Mais: que também demandaria recursos financeiros acima dos padrões de quaisquer outros eventos internacionais.

    Todas as partes envolvidas tinham noção do tamanho do rombo e do papel que caberia ao dinheiro público para que o projeto se tornasse realidade. No dossiê da candidatura, a estimativa orçamentária foi de US$ 14,3 bilhões. Era só uma estimativa, que dificilmente seria reduzida, e, como é corriqueiro em projetos semelhantes, costuma pender para mais, não para menos.

    Com a aproximação do evento -faltam 843 dias para a abertura, em 5 de agosto de 2016-, é prudente uma avaliação do estágio dos preparativos, uma vez que os Jogos envolvem mais de duzentos comitês nacionais ligados ao Comitê Olímpico Internacional e competições em 28 esportes.

    Em função disso, o COI esteve no Rio e viu com preocupação o estágio atual da proposta para a sede da Olimpíada e do canteiro de obras em atividade. Federações internacionais daquelas modalidades também mostraram receio com o andamentos dos preparativos. Daí a cobrança, uma vez que os prazos estão cada vez mais apertados.

    Os cartolas de fora não são mais ou menos preparados do que os daqui, com exceções para o bem ou para o mal, como em todas as atividades. Trata-se, no caso, de elites da cartolagem esportiva, dotadas de farta experiência no ramo.

    Portanto, em que pesem os atrasos, é de bom tom não se deixar levar por factoides, já que a questão envolve as cúpulas do mundo dos esportes e da política, setores quase sempre permeados de interesses camuflados, muitos deles surpreendentes e imponderáveis.

    Nesta altura dos acontecimentos, lamentos são descabidos. Nenhuma ação contundente, social ou política, foi criada como tentativa de impedir que o país assumisse projeto de tal grandeza.

    A letargia frente a esse compromisso, reivindicado diante da comunidade internacional pelo Brasil, leia-se governos e dirigentes esportivos, tem um preço a ser pago.

    Resta a possibilidade de mobilização, com bom senso e sabedoria, para evitar interferência externa nas decisões olímpicas internas do Brasil e para impedir também desmandos, como os de ordem econômica, que pesam forte no bolso dos contribuintes.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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