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    Edgard Alves

    Prisão no Irã realça luta da mulher no esporte

    04/11/2014 02h00

    A Olimpíada de Londres-2012 foi um marco na luta pela igualdade dos gêneros no esporte, simplesmente por ter tido participação feminina em todas as modalidades pela primeira vez na história. O boxe se converteu no último dos esportes a admitir mulheres no evento. Além disso, a Arábia Saudita também enviou moças para competir, fato inédito.

    Ocorreram polêmicas, como a do véu islâmico, peça de traje religioso, cuja permissão de uso era defendida por alguns países, mas, é bom deixar claro, não contava com a simpatia de muitas das 204 associações do COI. O véu pode cobrir o rosto ou só a cabeça? Ele oferece risco à saúde? Caiu o véu. Enfim, o tabu acabou quebrado.

    A presença da mulher no mundo dos esportes, no entanto, continua gerando conflitos. O Irã, que veta a presença de pessoas do sexo feminino em competições disputadas por homens, puniu com prisão uma jovem de 25 anos. Ela sequer entrou no ginásio.

    Ghoncheh Ghavami, de dupla cidadania –britânica e iraniana–, foi detida em junho do lado de fora do estádio de Azadi, em Teerã, onde participava de um ato que reivindicava que mulheres pudessem entrar para assistir a uma partida de vôlei entre as seleções masculinas do Irã e da Itália.

    Solta a seguir, e detida posteriormente, quando foi buscar seus pertences que haviam ficado em poder da polícia, Ghavami foi acusada num tribunal local de atividades e propaganda contra a República Islâmica. Acaba de ser sentenciada a um ano de prisão, punição que pode ser reduzida por bons antecedentes.

    O Reino Unido acompanha o caso, apesar de não ter representação diplomática permanente no Irã, condição que torna a troca de informações mais lentas. O Ministério do Exterior britânico cobra explicações dos iranianos. Portanto, esse caso deve ter desdobramentos.

    É uma oportunidade para que a Comissão da Mulher e o Esporte, criada e incentivada pelo COI, entre no debate. Pouco se fala sobre essa comissão, que aprimora seu trabalho com discussões relevantes, indo de performance a questões médicas da mulher ou equiparação de prêmios em dinheiro dos torneios femininos e masculinos.

    Na atualidade, qualquer modalidade que almeje integrar o Programa Olímpico deve ser praticada pelos dois gêneros. O golfe e o rúgbi, que retornarão aos Jogos no Rio, em 2016, estão enquadrados na norma.

    Apenas duas modalidades olímpicas são disputadas por um só gênero, paradoxalmente, o feminino: a ginástica rítmica e o nado sincronizado, ambas com características específicas. Será que daria para mudar esse quadro ou os dois esportes não despertam tal interesse?

    A controversa situação criada em Teerã antecipa debates sobre questões da mulher no esporte em relação à próxima Olimpíada. Alguns países ainda encontram dificuldades para esmiuçar o tema, especialmente por causa de suas legislações religiosas, ou políticas, ou sociais, que discriminam as mulheres ou as tratam de forma diferenciada, sempre privilegiando o gênero masculino.

    É quase impossível a compreensão de certos posicionamentos, atrelados muitas vezes à leis religiosas. São questões complexas, que demandam negociações delicadas e longas.

    Em momentos de crise, no entanto, é comum despontarem argumentações que ajudam a mudar a realidade. No caso, espera-se, a favor da consolidação da igualdade de gêneros. Qualquer demanda com êxito, pequeno ou grande, não importa, contempla de maneira positiva todas as vertentes. Sobre isso não há dúvida.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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