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    Edgard Alves

    A temporada que antecede a da Olimpíada

    06/01/2015 02h00

    Neste momento em que tantos questionamentos recaem sobre o esporte nacional, quando um novo ministro – leigo confesso no assunto, mas que diz entender de gente como contrapartida– assume a pasta da área, abre-se a temporada pré-Olimpíada do Rio-2016, evento mais do que centenário, porém inédito na América do Sul.

    Na semana passada, neste espaço, o leitor pôde conhecer detalhes da biografia de George Hilton (PRB), político e pastor religioso, indicado para a pasta do Esporte pela presidente Dilma Rousseff (PT).

    Um ministro no mínimo controverso, como apontou ontem editorial da Folha de S.Paulo, e que ao tomar posse no cargo, no salão nobre do Palácio do Planalto, recebeu vaias de parte dos presentes na cerimônia. Apesar disso, continua valendo para ele o benefício da dúvida. Vai se alinhar ao atraso que domina o setor esportivo nacional ou reagirá?

    A maior porção das atribuições do Ministério do Esporte, no entanto, nada tem a ver diretamente com esporte de alto rendimento, fato que ameniza o distanciamento da pasta nos preparativos olímpicos. A infraestrutura para a realização dos Jogos está a cargo de outros comandos e o aprimoramento da delegação brasileira é da responsabilidade das confederações nacionais das 28 modalidades dos Jogos e do Comitê Olímpico do Brasil.

    Dezenas de eventos internacionais importantes estão previstos mundo afora nesta temporada de 2015. O Brasil ficou fora da rota dos pré-olímpicos e mundiais. Por aqui, quem gosta de esporte terá de se contentar em torcer via TV ou com a oferta de eventos-testes em instalações dos Jogos, no Rio, em algumas modalidades olímpicas e paraolímpicas.

    O handebol abre e fecha a temporada com as seleções nacionais nos Mundiais da modalidade. O time masculino, que continua em busca de um bom posicionamento no plano internacional, vai ao Qatar, onde as disputas começam a partir do próximo dia 15, e a equipe feminina, em dezembro, tenta o bi mundial na Dinamarca.

    Na condição de país-sede, o Brasil tem praticamente asseguradas vagas em todos os torneios da Olimpíada. Por isso, as confederações nacionais de cada modalidade é que definirão qual o nível de interesse das suas seleções nos eventos classificatórios (pré-olímpicos), campeonatos mundiais e até mesmo nos Jogos Pan-Americanos de julho, no Canadá.

    O contraponto fica por conta das individualidades, a corrida dos atletas, cada qual na sua especialidade, em busca de vaga na delegação brasileira. Qual o atleta que não sonha com uma Olimpíada? Aí é que a coisa pode pegar fogo, ficar mais atraente.

    Esportes de tradição e natureza olímpicas, como natação e atletismo, terão os seus mundiais. Essas competições devem servir mais de aprimoramento para os brasileiros com vistas à Olimpíada no país do que para a obtenção de resultados fora de série, embora os atletas digam ser esta última hipótese a intenção. Será? Ou essas manifestações não passam de palavrório, que pode ser interpretado como busca por vaga?

    A turma da natação está empolgada com o inédito título mundial por equipes em piscina curta obtido no ano que findou. Já o atletismo, que falhou feio e ficou sem medalha na Olimpíada de Londres e no último Mundial, de fato precisa de resultados de expressão para amenizar o ostracismo.

    O vôlei e o judô, costumeiros frequentadores de pódios, passarão por eventos relevantes. O vôlei de quadra não tem Mundial, mas tem Copa do Mundo no Japão, a partir de agosto, disputada a cada quatro anos, com a nata da modalidade, e desta vez valendo vagas olímpicas. O vôlei de praia joga o seu Mundial, em junho, na Holanda. O judô tem Mundial em agosto no Cazaquistão.

    O basquete pode ter a confirmação das suas vagas olímpicas oficializadas nos próximos meses, mesmo assim prioriza a ida aos pré-olímpicos, o masculino no México e o feminino no Canadá, ambos em agosto. São torneios importantes para avaliação e testes.

    O futebol olímpico trabalha desde o ano passado com os olhos voltados para os Jogos do Rio. Não tem nenhum grande torneio no masculino, situação diferente do feminino, que vai testar sua seleção na Copa do Mundo do Canadá, onde estarão os destaques mundiais. O ouro olímpico continua inédito para as duas seleções, um fracasso da modalidade, a paixão da maioria dos esportistas do país.

    Apesar da pressão desse tabu, o futebol corre o risco de caminhar na direção em que o vento soprar porque o time principal, o do Dunga, participa da Copa América (junho/julho) e, a seguir, em outubro, inicia as eliminatórias para a Copa-2018. Com eventos desse porte pode chamar mais a atenção do público, ainda atormentado pelo vexame na Copa em julho passado.

    Com todas essas especificidades, cada esporte vai buscar o calçado mais adequado, que não aperta o calo. Assim a importância dos torneios nesta temporada pré-Olimpíada deve ser encarada de um modo pelos brasileiros e de outro pelo resto do mundo, embora parte dele já tenha garantido vagas no Rio, em algum esporte.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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