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    Edgard Alves

    Desafio olímpico é mostrar seus palcos

    03/03/2015 02h00

    Para o Comitê Rio 2016 e os governos envolvidos na organização dos Jogos Olímpicos, a semana passada foi marcada pela avaliação positiva do estágio das obras durante a visita de inspeção dos dirigentes do Comitê Olímpico Internacional.

    O alemão Thomas Bach, presidente do COI, aproveitou para ir até Brasília, onde, durante uma hora e meia, esteve reunido exclusivamente com a presidente Dilma Rousseff. Apenas um intérprete acompanhou conversa, cujo teor não foi revelado. Em várias entrevistas, o alemão declarou confiar que o governo cumpra a sua parte no projeto da Olimpíada.

    Ainda em sua estada no Brasil, Bach elogiou o andamento das obras dos Jogos, não perdendo o humor nem mesmo quando foi insultado em um hotel no Rio por manifestantes em protesto pelo corte de árvores na Marina da Glória, sede da vela na Olimpíada, e contrários à construção do campo de golfe, que invade a reserva ambiental de Marapendi.

    De todo modo, o tradicional alerta do "não há tempo a perder" também pontuou essa oitava inspeção do COI. Os organizadores dos Jogos, como era esperado, deixaram transbordar confiança no andamento das obras. Aliviados, sem broncas do COI, agora mudam o foco para outras direções, principalmente nos 21 eventos-testes programados para este ano.

    Eles servem para avaliar os locais de disputa de vários esportes dos Jogos. Os testes consistem na realização de campeonatos da modalidade no seu local específico. Assim, a parte essencial de cada uma dessas praças deve estar pronta logo, propiciando avaliação da qualidade da obra, talvez carecendo ainda de pequenos detalhes, mas a um passo da sua conclusão.

    Apesar do saldo positivo, a visita dos cartolas do COI levantou pontos de preocupação, como atrasos nas obras do centro de hipismo (teste em agosto), do campo de golfe (teste em novembro) e do velódromo (teste em março de 2016).

    A presença dos visitantes, como sempre acontece nessas oportunidades, teve seus percalços. Bach destacou que a despoluição das águas da Baía da Guanabara seria um dos legados dos Jogos. Mas ele desconhecia que a meta de despoluição de 80% daquele local já está descartada. O governo estadual do Rio diz que vai fazer o que for possível e completar o trabalho depois dos Jogos. Quando? Não se sabe.

    Uma declaração do prefeito do Rio, Eduardo Paes, que disse "odiar ter de ter feito o campo de golfe", provocou polêmica. Surpreso, Thomas Bach estranhou a fala do prefeito e se manifestou sobre o assunto.

    O presidente do COI recordou que Paes havia pressionado muito pela construção do campo –uma das obras mais contestadas dos Jogos– e que o prefeito devia ter pensado muito antes da decisão de construí-lo. Há dois campos de golfe no Rio, mas Paes alegou que pareceres diziam que não serviam.

    Outras dúvidas foram levantadas (metrô, transporte e deslocamento de atletas, hospedagem), mas com menor intensidade. O desafio são os eventos-testes. Já passou o tempo de mostrar o pau com o qual a cobra foi morta (ou ela teria fugido?); a partir de agora a organização dos Jogos tem de mostrar a cobra morta.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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