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    Edgard Alves

    Despoluição de baía vira novela olímpica

    31/03/2015 02h00

    Quando a poluição da baía de Guanabara parecia sem solução, após o fracasso das intervenções para uma reviravolta, eis que despontou uma surpresa. A família Grael, integrada por velejadores e medalhistas olímpicos, assumiria um projeto para limpeza das águas, palco da vela na Olimpíada-2016.

    Embora anunciada pela Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro, a informação soou pouco convincente, inacreditável. Acabou não ratificada pelos Grael logo depois e foi finalmente descartada pelos velejadores ontem (30).

    Para a nova tentativa de limpeza da baía restou uma consultoria, sem custo, do irmão mais velho dos Grael, Axel, engenheiro florestal e atual vice-prefeito de Niterói, que atua na área ambiental há muito tempo.

    Os Grael sempre foram críticos do desleixo com as políticas de despoluição das águas da baía de Guanabara. Entretanto, nunca detalharam nas entrevistas que já tinham pronto qualquer projeto para a solução do problema. Por isso a informação inicial da secretaria estadual causou estranheza.

    Outro fator desconcertante: a oportunidade de um contrato emergencial de governo, sem licitação, não era uma situação adequada para ser assumida por críticos.

    A despoluição das águas se converteu em tropeço, admitido até pelo governo local, com relação aos preparativos para os Jogos. Eduardo Paes, o prefeito do Rio, chegou a lamentar a oportunidade desperdiçada pela cidade de superar o problema, pois o desafio sempre contou com o respaldo e força do projeto da Olimpíada.

    A péssima condição das águas não para de gerar críticas. O velejador e medalhista olímpico Bruno Prada, por exemplo, foi incisivo em sua coluna mensal no jornal Lance!. Sob o título "Velejando na merda", destacou: "Gostaria de falar um pouco das condições da baía de Guanabara, um dos cartões-postais mais bonitos do mundo. Ainda bem que cartão-postal não tem cheiro!"

    Prada relembrou comentários negativos de estrelas da vela, como o de Martine Grael, "tenho vergonha das condições em que a baía se apresenta".

    O desafio provocado pela sujeira nas águas virou novela. Chegou a um capítulo preocupante quando, no início deste mês de março, foram suspensos pelo governo do Estado do Rio de Janeiro os trabalhos de limpeza com barreiras de contenção nos rios para impedir a chegada do lixo na baía e com a coleta por ecobarcos de objetos boiando. A justificativa foi que as ações não estavam funcionando.

    Na semana passada, a novidade. O secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, anunciou um convênio de R$ 20 milhões, sem licitação, válido por 18 meses, a ser firmado com o Instituto Rumo Náutico, organização não governamental vinculada ao Projeto Grael, criado pelos medalhistas Torben e Lars. Mais do que uma escola de vela, trata-se de um projeto de inclusão social. A vocação do Instituto, segundo Lars, não é gerir recursos públicos para a despoluição da baía de Guanabara.

    O secretário Corrêa alegou que ninguém conhecia mais o problema do que os Grael, velejadores renomados. E os planos, pasmem, eram retomar barreiras de contenção, porém mais fortes do que as anteriores, e ação de ecobarcos, com uso de equipamento doado pela Holanda para monitorar marés e ventos.

    A recusa definitiva dos Grael resgata a postura crítica assumida nos últimos tempos pela família sobre a caótica situação da baía de Guanabara, independentemente da falta de explicações sobre os motivos que levaram ao atrapalhado anúncio da parceria.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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