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    Edgard Alves

    As pedras no caminho olímpico do basquete

    07/04/2015 02h00

    O basquete do Brasil ainda não sabe se terá vaga na Olimpíada do Rio, no ano que vem. É uma situação reveladora do desprestígio da cartolagem local junto aos seus pares no plano internacional, levando-se em conta que o Brasil vai bancar a festa, e o basquete, sem dúvida, é um dos pontos altos dos Jogos.

    A federação internacional de cada modalidade tem o poder de incluir o país-sede entre os participantes dos seus torneios masculino e feminino. É um gesto de diplomacia, respeito, incentivo e deferência ao organizador. Além disso, serve como um incentivo para que os torcedores locais acompanhem o evento.

    A contrapartida exigida pela Fiba (Federação Internacional de Basquete) para confirmar esse tipo de convite abrange pontos básicos como nível no desenvolvimento do esporte no país, tradição da modalidade, resultados recentes e situação administrativa. Historicamente, o basquete brasileiro desfruta de um conceito positivo, mas, neste último quesito, a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) tem acumulado situações embaraçosas.

    A entidade gastou muito mais do que arrecadou e vive atormentada pelos reflexos de empréstimos contraídos para cobrir suas obrigações.

    Além disso, a CBB precisou pagar à Fiba por uma vaga para que o time masculino não ficasse fora do último Mundial, ano passado, na Espanha.

    A oferta de vagas mediante pagamento é oficial e anunciada antecipadamente para que os interessados se manifestem. Depois se dá a triagem de acordo com as reservas disponíveis para essa finalidade.

    O Brasil tinha perdido a chance de garantir em quadra, na Copa América de 2013, sua vaga no Mundial. E a Copa carregava um sentido especial, relevante, porque as seleções do Brasil e dos Estados Unidos eram as únicas com participação em todas as edições anteriores. Veio daí o respaldo da opção de pagar pela vaga.

    Atraso no cumprimento dessa pendência financeira com a Fiba é o mais provável motivo da não confirmação do convite olímpico até agora. Coisa de US$ 1 milhão. A cartolagem da CBB diz que tudo corre conforme o combinado com a federação internacional, mas já houve informação contrária divulgada pela mídia.

    O impasse, no momento, tumultua o planejamento da preparação das seleções brasileiras, ambas com dois eventos pela frente. Os pré-olímpicos das Américas, com oferta de vagas nos torneios de basquete da Rio-2016, estão agendados para o segundo semestre, após o Pan de Toronto, em julho.

    A disputa no masculino será em Monterrey, no México, a partir de 25 de agosto, com duas vagas para o Rio, enquanto os outros dois semifinalistas irão para um torneio mundial no ano que vem, pouco antes dos Jogos. No feminino, a partir de 9 de agosto, em Edmonton, Canadá, apenas o campeão se classifica, restando ao segundo, terceiro e quarto a chance de nova tentativa também em 2016.

    Caso o convite não venha, é bom ficar claro, não significa que o Brasil estará alijado dos Jogos Olímpicos. O basquete brasileiro tem potencial para conquistar vaga tanto no masculino como no feminino.

    Precisa contar com o reforço dos brasileiros que atuam no exterior e de um trabalho intenso de preparação. Um alento já nos Pré-olímpicos das Américas é que o basquete dos EUA, indiscutivelmente o mais forte concorrente da região, está garantido na Olimpíada nos dois gêneros.

    O técnico da equipe masculina do Brasil, Rubén Magnano, campeão olímpico dirigindo a Argentina em Atenas-2004, agendou viagens para os EUA e Europa para avaliar o interesse dos possíveis convocados. É uma missão importante porque a CBB terá de negociar cobertura de seguro para esses atletas, especialmente os da NBA, que recebem altos salários.

    A seleção masculina de basquete chegou a ser destaque nas delegações olímpicas do Brasil por um bom período. Havia motivos: foi o primeiro esporte coletivo do país a subir no pódio na história da Olimpíada (bronze em Londres-48) e a modalidade que trouxe a única medalha brasileira dos Jogos de Tóquio-64, também de bronze.

    Ganhou ainda outro bronze em Roma-60. Nesse período chegou a ostentar o título de bicampeã mundial (Chile-59 e Rio-62). Depois o basquete só voltou ao pódio olímpico com o time feminino, prata em Atlanta-96 e bronze em Sydney-00. O torneio masculino foi introduzido nos Jogos em Berlim-36 e o feminino, apenas quatro décadas depois, em Montrèal-76.

    Formar duas seleções, uma para o Pan e outra para o Pré-olímpico, parece ser a solução mais indicada e segura diante da dúvida sobre a confirmação ou não dos convites para a Olimpíada. Entretanto, ainda resta a chance de a Fiba ceder as vagas para o Brasil. A entidade agendou para 30 de junho a definição.

    Esse prazo, certamente, vai funcionar para aparar arestas e ajuste de contas, e negociações que devem envolver outras partes interessadas, como o Comitê Rio-2016, responsável pela organização dos Jogos, e o Comitê Olímpico do Brasil, além da CBB.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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